CENÁRIO APOCALÍPTICO

'Desesperador', diz morador de Franca sobre festa tomada por fogo

Por Bruna Góis | da Redação
| Tempo de leitura: 4 min
Reprodução/WhatsApp
Rodrigo Alves estava em festa com os amigos, conseguiu encontrar a família no domingo e retornou para casa
Rodrigo Alves estava em festa com os amigos, conseguiu encontrar a família no domingo e retornou para casa

O festival Acanã Ritual estava previsto para acontecer durante o último fim de semana, com duração de 31 horas, na área rural de Altinópolis, cidade localizada a 84 km de Franca. O evento terminou mais cedo devido a uma forte tempestade de vento acompanhada de fogo, ocasionado pelos incêndios que tomaram a região. Desesperado, o público da festa saiu correndo das chamas para se salvar.

Procurando rotas para se salvarem, os jovens deixaram tudo para trás. Barracas e pertences pessoais foram queimados. O sapateiro Rodrigo Alves Ferreira, 31 anos, morador no bairro Vila Aparecida, em Franca, estava neste cenário apocalíptico.

Rodrigo dormia na barraca quando o incêndio se alastrou para o local do evento e camping. Ele foi acordado por amigos. O jovem saiu correndo em meio ao fogo, vento, cinzas e muito desespero. "Lembrei de um local de alvenaria e sai em rota para ele. Chegando lá, havia mais seis pessoas se abrigando do fogo. Do lado, era o estacionamento que já estava em chamas", relata.

Após 30 minutos, um homem que estava ajudando a resgatar as pessoas do local, encontrou os jovens e os levou para um ginásio na cidade de Altinópolis. "O meu caso ficou mais tenso, porque eu tinha deixado meu celular com um amigo e, na correria, como ele estava de carro e foi para outro lado, não dando tempo de ele me procurar e eu não consegui avisar meus familiares que estava bem", diz Rodrigo, que chegou a ser considerado desaparecido pela família.

No ginásio, o acolhimento e a ajuda foram extremamente importantes. No local, a distribuição de comida era feita por voluntários, sendo pão de forma com presunto e muçarela, água, refrigerante, café e caldo de feijão. Também foram disponibilizados colchonetes e cobertas para passarem a noite no local.

Muitos jovens passaram a gravar e divulgar nas redes sociais o acolhimento e o relato dos perigos enfrentados, mas deixando claro que estavam bem. Entre os vídeos, Rodrigo apareceu, levando a família a conseguir encontrá-lo e ter notícias mesmo sem contato. "Eu tinha certeza de que no outro dia iria voltar para casa, mas não imaginava que minha família estava a caminho para me encontrar".

O encontro aconteceu logo pela manhã de domingo, 25, às 9h. A família não conseguiu ir de imediato em busca do jovem, porque as rodovias estavam fechadas por conta das queimadas na região. Enquanto isso o jovem pegava uma carona e retornava para o local do evento para procurar o seu celular. "Nesse meio tempo de procura, eu avistei minha mãe e meus amigos. A sensação em ver minha família foi muito emocionante, após ter vivido esse caos", diz, emocionado.

Horas de angústia

A família comenta que foram momentos agonizantes por não ter notícias do Rodrigo e por não conseguir ir de imediato para a cidade, por causa do caos que tomou a região no fim de semana. Ao liberar a rodovia, a família foi imediatamente em busca do rapaz.

"Muitos amigos próximos e distantes me procuraram e ajudaram a compartilhar a minha imagem de procurado. Muitas pessoas mandaram mensagens, até quem eu não imaginava perguntando se eu estava bem. Nunca recebi tantas mensagens, nem no meu aniversário, e isso acalentou o meu coração".

Após os momentos de aflição, o jovem se confortou. "Parecia coisa de fim dos tempos, sinistro, eu continuo tranquilo, mas muitas pessoas vão ter que passar por psicólogos, certeza". Além das boas ações recebidas, Rodrigo não teve nenhuma intoxicação com a fumaça, a única marca foi os momentos sofridos.

Outros relatos

Internautas postaram nas redes sociais os momentos de desespero vividos no incêndio. Alguns afirmaram que a produção do evento anunciou para retirar os carros dos estacionamentos por volta das 17h10. Em minutos, tudo se transformou em um cenário apocalíptico, segundo os jovens. Uma participante, de 28 anos, disse que a produção do evento não tomou uma atitude de paralisar os shows ou evacuar mais cedo o local.

A produtora foi procurada pela reportagem do portal GCN/Sampi pelos canais de telefone, e-mail e WhatsApp, mas em nenhum houve retorno.

Cenário apocalíptico 

A festa era realizada em uma fazenda com espaço aberto no município de Altinópolis. As queimadas transformaram a diversão em medo e desespero. Muitos jovens retornaram para o local do evento após a noite de chamas que enfrentaram. Foi quando compreenderam a dimensão do que aconteceu.

Palcos foram destruídos, poucas barracas no camping sobraram e um veículo foi tomado pelas chamas. "O que ficou foi a nossa vida, mas pertences que estavam nas barracas que 'sobreviveram' às chamas foram levados. Mesmo com todo esse caos, tiveram pessoas com a capacidade de roubar", relata uma jovem de 32 anos, de Rifaina.

Nota oficial

Nas redes sociais, a Anacã Festival se posicionou através de uma nota no domingo de manhã. "Diante de toda a situação, precisamos pedir ajuda para que seja repassada a informação de que todos que estavam no evento saíram da fazenda, e os que foram acolhidos pelo abrigo da cidade já começaram a voltar para suas casas. Nosso foco agora é garantir que todos cheguem seguros em casa, após tudo o que aconteceu. A tristeza é imensa e o desespero de não ter respostas para tudo é real. Nosso tempo de reação foi curto, e estávamos juntos com vocês tentando sair em segurança do local. Teremos mais respostas assim que conseguirmos todas as informações necessárias para vocês".

Carro destruído após chamas atingir o estacionamento do evento
Carro destruído após chamas atingir o estacionamento do evento
Camping em ruínas após o incêndio
Camping em ruínas após o incêndio
Barracas que sobreviveram ao incêndio
Barracas que sobreviveram ao incêndio
Um dos palcos da Festa em destruídos após a devastação das chamas
Um dos palcos da Festa em destruídos após a devastação das chamas
Caixas de som e equipamentos de iluminação não sobreviveram ao calor das chamas
Caixas de som e equipamentos de iluminação não sobreviveram ao calor das chamas

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Comentários

1 Comentários

  • Gabiroba 7 horas atrás
    Fico imaginando os caras fritando na rave e vendo o fogo vindo... Achando que o fogo era coisa de bad trip ou que fazia parte dos alucinógenos... Que sorte que ninguém morreu ou se jogou no fogo!