Quando Permitir a Maré, novo livro do Baltazar Gonçalves, tem contos bem distantes das obviedades. Isso torna a leitura muito mais instigante. Seu estilo é prosa poética, direta mas nada evidente. Nada de clichês.
Nas primeiras folhas o agradecimento: "Agradeço ao deus Tempo a dádiva do desespero". Segue uma justificativa para a obra, Pretexto, um prefácio ou o que for (a obra não é presa a definições), com trecho como "Quando permitir a maré é utópico mas aberto e tem poesia". O autor, nos contos que se sucedem, mostra também seu lado poético, historiador, crítico, sarcástico.
Muitas personagens se inspiradas ou não em suas vivências, o que é ficção ou realidade não importa. Na obra há dor, conflito, agonia, recaída, prazer, dor, cotidiano. Chama muita a atenção contos como Por Nenhuma Razão e trecho como "Viviam felizes na miséria, no campo, mas sem filhos"; conto da primeira parte (Barragem) da obra.
A segunda parte (Vazante) começa com o conto Algemas com trecho como "a falta de mais colorido sinaliza extinção". Na terceira parte (Lamaçal) o conto Enquanto Ana Morre com uma citação de Ana C. (a poeta da geração mimeógrafo) com "Chora-se com a facilidade das nascentes" e o trecho do conto "Não é certo Ana morrer antes dos 18 se aos 12 fazia planos".
O último conto Sete Pecados é dividido em pequenas partes e cada pecado na mesma noite, madrugada em horários distintos. A obra é com linguagem contemporânea, estilo moderno mas não dispensa a riqueza de vocabulário, jogos de palavras, referências a obras clássicas. O livro entusiasma, de leitura rápida, de uma vez; mas que já deixa o leitor desejando reler contos, refletir e interligar contos.
Livro digno de premiação. Se premiado ou não em academias ou concursos é uma outra história. A premiação, a meu ver, é o autor saber que faz transbordar pensamentos e sensações no leitor.
Tânio Sad é advogado, crítico literário e escritor francano. Publicou na antologia Tanto mar entre nós.
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