ARTIGO

Adoção no Brasil, uma prática com muitos desafios


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No Brasil, o processo de adoção ainda é muito demorado e requer um intenso preparo psicológico dos futuros tutores, comparando –se a um período de gestação prolongada, e no decorrer desse processo será necessário adequar a sua vida as futuras expectativas, anseios e possíveis momentos desconcertantes que poderão surgir ao decorrer do aguardar pela adoção.

É possível durante esse tempo, idealizar como a criança será, imaginar muitos projetos para a ‘’chegada do filho’’, assim como no processo de gestação que o filho é esperado e planejado. Muitos casais esperam por essa oportunidade na fila de cinco a oito anos, quando preferem por um bebê recém-nascido, sendo que quando a criança possui mais de dois anos o tempo de espera para a adoção é menor, tendo em vista que reduz a preferência pela procura pela adoção.

E como ocorre todo o processo para adquirir a habilitação para então concluir o sonho da ‘’maternidade e paternidade’’, onde os interessados precisam participar de um grupo de apoio a adoção, fazer um levantamento da documentação, e obter um atestado de saúde mental para entrar com o processo. Posteriormente deverão passar por entrevistas com psicólogos e assistentes sociais, receber as visitas domiciliares. Aguardar a finalização do processo de habilitação, para finalmente entrar no cadastro nacional de adoção.

O processo é lento e não há profissionais suficientes para agiliza-lo. E os profissionais que deveriam orientar não estão preparados para lidar com os adotantes. Segundo Ana Claudia Vadja psicóloga especialista em adoção é notável a falta de discussão e estudos sobre o tema, onde é possível perceber que o senso comum e o pré-conceito ainda estão presentes nos processos, causando desconforto para casais que buscam e querem adotar, passando ainda a sensação de que estes não são capazes de ‘’maternar’’, cuidar e educar. Vale ressaltar que na história do nosso pais, por muito tempo os mais abastados adotavam para ajudar os menos favorecidos em troca de trabalho e atualmente ainda percebemos a influência deste legado na adoção.

A chamada ‘’adoção brasileira’’, que na década de 80 instituiu a facilidade do registro da criança no cartório, sem passar pelos tramites legais, e no montante representam mais de 90% dos casos. A pratica de atendimento as famílias adotivas, mostra que ainda há um constrangimento ao compartilhar de que maneira o filho chegou até a família e este desconforto vem da crença de que o filho que não é ‘’biológico’’ é inferior, e por muito tempo se evitava comentar sobre o assunto para esquivar-se do olhar discriminatório da sociedade.

Estimulando à adoção aqueles que não são capazes de gerar os próprios filhos, com esse conceito cultural atuando até os dias atuais. Os pais adotivos muitas vezes sentem-se inseguros em relação ao filho, fantasiando de que um dia ele poderá querer conhecer seus pais biológicos e que caso isso aconteça, ‘’o sangue falará mais alto’’. E essa insegurança vem da interpretação errônea de que eles foram os intrusos na vida natural do filho. E que essa atitude pode gerar problemas futuros na vida dos filhos, com condutas desobedientes e sem limites. O pior é que este receio é o que leva muitos pais decidirem não contar a verdade ao filho que ele é adotado. Entretanto para esses casais revelar a situação a criança também reaviva sentimentos de incapacidade e frustração no caso de um dos pais ser infértil. Nesse ponto, é importante averiguar com um profissional da psicologia o que desencadeia esta frustração.

A realidade para uma criança que está para adoção é a de que ela foi gerada por pessoas que não tem condição de cria-la. E a partir do momento que a família adotante se apropria emocionalmente desse filho, não há mais lugar para inseguranças, onde o cuidar, educar e impor os limites é o que construirá esta nova e verdadeira família.

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