Dirceu volta ao Congresso após 19 anos e revive beija-mão no Lula 3
O ex-ministro José Dirceu voltou ao Congresso nesta terça-feira (2) em mais uma demonstração de que tem conseguido restabelecer força no meio político.
Após 19 anos sem pisar na sede do Legislativo brasileiro, o ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula (PT) participou como protagonista de uma sessão no Senado em celebração à democracia, que lembrou os 60 anos do golpe militar. Ele foi comemorado com aplausos no plenário.
Dirceu recebeu elogios do líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), e fez um discurso em que defendeu mudanças nas Forças Armadas e criticou a relação dos militares com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Não basta a desmilitarização e a volta aos quartéis. Isso aconteceu em 1988. O comprometimento das Forças Armadas com o governo Bolsonaro e o 8 de janeiro está aí", disse, em referência aos atos golpistas do início de 2023.
A ida de Dirceu ao Parlamento ocorre em meio às movimentações dele para ampliar sua influência nos bastidores e viabilizar uma candidatura a deputado federal ou até mesmo ao Senado por São Paulo em 2026, segundo dizem interlocutores do ex-ministro.
Dirceu está inelegível por condenações no mensalão e na Lava Jato, mas atua perante o STF (Supremo Tribunal Federal) para recuperar os direitos políticos.
Mesmo se não obtiver sucesso na empreitada judicial, manterá grande influência nos bastidores de Brasília, na avaliação de integrantes do alto escalão do governo consultados pela reportagem.
Esse prestígio ficou demonstrado, por exemplo, pelo rol de convidados que esteve presente em seu aniversário. No último dia 13 de março, Dirceu recebeu o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), entre outros políticos que estão à frente das principais decisões do país para celebrar seus 78 anos.
O ex-ministro também tem reforçado as articulações junto a políticos importantes do PT e deve ser protagonista no debate sobre a sucessão da atual presidente do partido, Gleisi Hoffmann, no início de 2025.
Dirceu vem ampliando as divergências públicas com Gleisi em meio ao acirramento do debate interno sobre quem entrará em seu lugar na chefia da sigla.
A próxima direção da legenda será responsável por articular as alianças para a possível reeleição de Lula em 2026 e terá controle sobre o fundo eleitoral da sigla, que deverá passar de R$ 600 milhões, fora os R$ 65 milhões anuais de fundo partidário.
O ex-ministro defende uma renovação nas posições de comando da sigla e vê o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, como um bom nome para o desafio. A avaliação é que o paulista é mais aberto ao diálogo e teria maior capacidade para construir uma aliança com partidos de centro, como o MDB, em 2026.
Dirceu tem defendido nos bastidores que o PT precisa ampliar o diálogo com a sociedade e disputar o eleitor vinculado a Bolsonaro. No discurso no Senado nesta terça, ele afirmou que o governo Lula precisa fazer uma "revolução social, desconcentrar a renda, a riqueza e a propriedade" para "consolidar a democracia brasileira".
"O nosso povo resiste, luta. Se temos democracia, é por isso. Como a extrema direita e o conservadorismo cresceram no mundo todo, inclusive na América do Sul, nós tivemos agora a eleição na Argentina de um governo de extrema direita [em referência a Javier Milei], é preciso recolocar que é a luta política, social que faz a lei. Esse é o nosso papel."
Além de aplausos, ele foi exaltado por Randolfe Rodrigues.
"Com enorme honra eu destaco e agradeço a presença, nesta mesa, deste companheiro, que agradeço a Deus a possibilidade de, na minha formação política, ter sido um dos formadores dos melhores momentos do Partido dos Trabalhadores", disse o senador.
E seguiu: "Meu querido José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-deputado federal, militante político da resistência à ditadura entre os anos de 1960 e 1970. Zé, é uma honra para nós ter você conosco aqui nesta mesa".
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