OPINIÃO

Renascimento

Ser cidadão vai muito além de contágio, propósitos e convencimento ou coação. Está acima de gozos de deveres e direitos do Estado. Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 30/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Fosse reação individual, bastaria tomar vitaminas patrióticas para desencadear procedimentos desejáveis. Jeito especial de agir? Bastaria estudar e após contratar mídia, mostrar figurinhas e figurões assumindo atitudes consideradas positivas e conseguiríamos massificar a intenção. Questão de comportamento? Postura? Posição do espírito? Seria suficiente estimular ou tornar obrigatória a Lei Única de Amar e Respeitar Incondicionalmente. Ser cidadão, porém, vai muito além de contágio, propósitos e convencimento ou coação. Está acima de gozos de deveres e direitos - civis ou políticos – do Estado. É algo que se aprende e se vivencia. Postura que, introjetada, gruda e jamais será descartada.

Simples. Basicamente é não jogar lixo nas ruas, cuidar do meio ambiente no limite das mãos, avaliar com consciência e imparcialidade os candidatos a cargos políticos, acompanhar o procedimento deles.  Pagar impostos e cobrar dos governos lisura, decência e dignidade prometidas. Saber (de cor) o Hino Nacional do país e, pelo menos, reconhecer os acordes de outras canções da pátria, apontar no mapa a exata localização das capitais dos estados da União. Conhecer, mesmo que superficialmente, algo da história dos antepassados. Obedecer a sinais de trânsito.

Menos simples: estar atento àquilo que acontece ao redor, ainda que fora dos limites dos olhos. Perceber a imensa rede que nos une a todos. Ter consciência de que a catástrofe ocorrida em qualquer região nos afeta, mesmo que não sintamos seus efeitos pela proximidade. Sentir responsabilidade pelos menos favorecidos, fazendo-os irmãos.

Difícil. Sem ter sido vítima de violência, reconhecê-la e lutar por sua extinção. Sem ser pai, sair às ruas exigindo melhores condições de estudo para filhos que não são seus. Ainda que sem dimensionar o valor real, batalhar pela arte e preservação da cultura do país.

Dificílimo. Sair do casulo, invólucro fabricado pelo egoísmo tecido com teias que impedem ações de compartilhamento, cumplicidade, companheirismo, amor pelo próximo e pela terra natal.

Quase improvável, mas não impossível: sonhar com país novo, formado por imensa população vizinha e próxima onde todos serão iguais perante a lei e terão objetivos semelhantes de dignidade e justiça. Nada impede de idealizar e lutar pelo futuro, quando estaremos formando esta sociedade.

Nessa nova era sairíamos de casa com segurança e certeza da volta. Nossos filhos poderiam planejar o futuro. Todos teriam saúde, educação, moradia, emprego e lazer garantidos. Os aposentados, sem condições de trabalho, seriam assistidos – sem paternalismo – pelo Estado. Nosso país não mais seria espoliado por vampiros locais ou estrangeiros.  Nossas matas e riquezas minerais seriam preservadas. Empresários poderiam dormir sossegados sem o fantasma da derrota corroendo seus ideais.  Artistas criariam livremente. A corrupção seria atitude excêntrica, não constante.  Suborno, abuso de poder, autoritarismo, apropriação indébita e omissão seriam apenas palavras do dicionário, sem outra finalidade que a de denunciar passado de (más) lembranças.

“É possível!”: a partir da hipótese o cidadão encara novo dia. E trabalha. Vota.  Escolhe. Cobra. Exige.  Presta atenção.  Muda postura. Lê e se informa. Acredita. Descarta. Aceita. Pensa. Segue. Chora. Ri. Responsabiliza-se. Reparte. Alegra-se. Aí, olha ao redor e sente os efeitos do clima privilegiado. Olha para trás e reconhece passado glorioso. Olha adiante e tem esperança. Olha para cima, vê o Cruzeiro do Sul. Vem a certeza e acredita: “Vou conseguir!”.

Ergue a cabeça, sente orgulho e assume: “Depende de mim. Depende de cada um de nós!”. Respira fundo e percebe que, qual Fênix, acabou de renascer como Cidadão Brasileiro.

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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