OPINIÃO

Amanhecer

Noite braba, hein? Mamar de três em três horas e ainda por cima revezando, cansa, hein? Leia crônica de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 16/04/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

- Bom dia, Beatrice!

- Bom dia, Melissa!

- Noite braba, hein? Mamar de três em três horas e ainda por cima revezando, cansa, hein? Tadinha da mamãe.

- Tadinho do papai, também. Ele faz as mamadeiras com fórmula e intercala com o peito da mamãe. Tadinha também da vovó Cristina! Ela entra na dança e haja tabela para organizar nosso atendimento. Três para tomar conta de nós, que agora, depois de mês e meio, atingimos, juntas, seis quilos... Já pensou quando estivermos aí pelos cinco, seis quilos ... cada uma?

- Rotina cansativa. Dá banho. Limpa cocô. Troca xixi. Muda roupa vomitada. Troca cobertorzinho. Troca macacão. Que trampo! Talvez, quem sabe, mais adiante teremos conseguido dormir e deixar nossos cuidadores dormirem melhor.

- Pode ser...

- Acho que foi a outra avó, que não conhecemos, mas de quem ouvimos falar, que leu algo sobre esses choros esquisitos e espontâneos que damos, até parece que só para acordar e assustar adultos na madrugada. Diz ela que é para ajudarmos os pais a se firmarem como pais... do contrário só as mães sentirão o doce sabor da maternidade.

- Doce?

- Sim, doce. Preste atenção ao que acontece no nosso redor: para quem é o primeiro sorriso de reconhecimento? Qual a primeira sílaba que balbuciamos?

- Tem muito pai que acarinha, pega no batente, dá banho, se faz presente... Mas, sim, é a mãe que leva a vantagem de nos ter quase nove meses antes dentro dela, no íntimo dela, nas entranhas dela, no elaborado, complicado, cansativo e minucioso trabalho de nos produzir.

- É, Melissa! De certa forma você tem razão, mas leve em conta que os amores são diferentes, e que são ambos intensos e profundos.

- Escuta, o que será que passaram no nosso cabelo para ficar espetado assim? Meu pai diz que é penteado estilo Supla. Você tem ideia de quem seja esse ser?

- Não. Mas ouvi dizer que, no Brasil, é comum colocar pingo de nata de sabonete derretido no topo da cabeça das menininhas e fixar lacinho de fita de seda. Ou furar o lóbulo para colocar brinquinhos na orelha. Mas tudo está muito complicado com as novas políticas politicamente corretas. Nem cor é indício do nosso sexo. Melhor botarem letreiro na gente para nos diferenciar...

- Você está animada para começar a ficar independente, Beatrice?  Engatinhar, pegar o copinho e tomar algum líquido diretamente dele? Comer alimentos sólidos? Ir ao banheiro sozinha, se higienizar? Ir para a escola? Sair com nossos primos, ir ao Zoo com nossas avós, passar a tarde no Hyde Park? Entrar no avião e visitar o Brasil?

- E você, Melissa? Ouvi os adultos comentando que você é mais agitada... Vai aprender a pilotar bicicleta? Andar de skate? Sentar nas escadas da estátua do Piccadilly Circus, montar nos leões da Trafalgar Square, andar na London Eye?

– E quando formos para o Brasil? Será que nos levarão à Praça N. Sra. da Conceição para comermos churros? Ou experimentar picolé de groselha? Açaí? Comer pé de moleque do Binuto? Visitar a Canastra? O Grande Hotel do Araxá? Passear de trenzinho?

- Não sabemos. O futuro a Deus pertence... Mas agora, vamos chorar bem alto juntas, para ver o que acontece? Comece você, Mel!

- Não Bia! Pode ir na frente!

- Mais alto, que eles estão muito cansados, não ouviram a gente gritar...

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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