NOSSAS LETRAS

O gelo da Antártica

Minha geração descobriu, pelo filme 'Um Corpo que Cai' de Alfred Hitchcock, que os anéis das árvores marcam anos, cada anel, um ano. Leia o artigo de Mário Eugênio Saturno.

Por Mário Eugênio Saturno | 01/04/2023 | Tempo de leitura: 2 min
Especial para o GCN

Minha geração descobriu, pelo filme "Um Corpo que Cai" de Alfred Hitchcock, que os anéis das árvores marcam anos, cada anel, um ano. Isso devido ao inverno e ao verão. Nos polos sul e norte acontece o mesmo com a neve, ela forma camadas que podem ser isoladas, cada uma equivalendo a um ano. Invernos rigorosos impactam no anel e na camada de neve. A neve ainda nos fornece uma informação adicional, a composição química da atmosfera naquele ano.

A Nature publicou em janeiro último o artigo "Seasonal temperatures in West Antarctica during the Holocene", ou Temperaturas sazonais na Antártica Ocidental durante o Holoceno, revelando os registros climáticos com resolução sazonal, as mudanças de temperatura no verão e no inverno nos últimos 11.000 anos.

Os cientistas realizaram experimentos para entender seus controles físicos. O Holoceno oferece uma janela de tempo para avaliar a influência do forçamento orbital sem os efeitos complicadores da deglaciação do Hemisfério Norte. Na reconstrução, usam-se isótopos de água do lençol de gelo da Antártica Ocidental.

O site Inovação Tecnológica entrevistou os autores para esclarecer a importância do estudo. Explicaram que perfuraram o Manto de Gelo da Antártica Ocidental com uma broca oca, gerando um "testemunho" de gelo medindo 3.405 metros de comprimento por 12 centímetros de diâmetro, o que significa que a amostra continha dados de até 68.000 anos (é uma prova, a Terra tem mais 6 mil anos).

Cada tubo de gelo foi cuidadosamente cortado em seções menores, que puderam ser transportadas com segurança e armazenadas ou analisadas por vários laboratórios. O estudo focou nas proporções de isótopos de água (elementos com o mesmo número de prótons, mas diferentes números de nêutrons) que revelam dados sobre temperaturas passadas e circulação atmosférica, incluindo transições entre eras glaciais e períodos quentes no passado da Terra.

O estudo validou como as temperaturas sazonais nas regiões polares respondem aos ciclos de Milankovitch, ou seja, comprovou que os efeitos coletivos das mudanças na posição da Terra em relação ao Sol, devido a variações lentas de sua órbita e eixo, são um forte impulsionador do clima de longo prazo da Terra, incluindo o início e o fim das eras do gelo, antes da influência humana no clima.

Cabe ressaltar que este foi o primeiro registro de temperatura sazonal desse tipo já feita. O objetivo da equipe de pesquisa era ultrapassar os limites do que é possível com as interpretações climáticas do passado e isso significava tentar entender o clima nas escalas de tempo mais curtas, neste caso, sazonalmente, do verão ao inverno, ano a ano, por muitos milhares de anos.

Esses dados mais detalhados sobre os padrões climáticos de longo prazo do passado fornecem uma linha de base importante para estudar os impactos das emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem em nosso clima atual e futuro. Sabendo quais ciclos planetários ocorrem naturalmente e o porquê, os pesquisadores podem identificar melhor a influência humana nas mudanças climáticas e seus impactos nas temperaturas globais.

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