NOSSAS LETRAS

O despertar do interesse pelo livro e pela literatura

Não podemos perder essa oportunidade de despertar uma representação positiva e encantadora sobre o livro. Leia o artigo de Zoara Failla.

Por Zoara Failla | 31/12/2022 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Se compararmos os resultados da pesquisa Retratos da Leitura aplicada na Bienal de SP, em 2022, com a Retratos da Leitura no Brasil realizada em 2019, podemos destacar a importância desses eventos em atrair um público já mobilizado pelo livro. Dos visitantes entrevistados, 98% são leitores de livros (leram pelo menos um livro em um período de três meses). Um percentual muito superior ao dos brasileiros (52%).

A questão que devemos trazer, para analisar se esses eventos despertam interesse pelo livro naqueles que ainda não são leitores, é se aqueles estudantes que visitaram essas feiras porque participaram de excursões promovidas pelas escolas, podem ter despertado seu interesse pelo livro. Não temos pesquisa sobre esse possível impacto, mas podemos trazer informações de outros estudos.

Sabemos que a grande maioria dos estudantes do Ensino Básico de escolas públicas não tem livros de literatura em casa. Em relação a bibliotecas, o Censo do MEC nos diz que cerca de 60% das escolas brasileiras não têm bibliotecas instaladas. Já a 5ª edição da Retratos da Leitura no Brasil nos diz que 58% dos estudantes do ensino Fundamental I e II, dependem de uma Biblioteca na escola para lerem os livros indicados pelos professores.

Esses dados nos possibilitam dizer que a grande maioria desses estudantes que visita essas feiras e que recebe Vales para compra de livros, quando promovidos pelas prefeituras locais, nunca comprou um livro antes e, muito provavelmente, tem somente livros didáticos em casa.

Essa deve ser sua primeira experiência na escolha e compra de livros(s). Certamente, essa experiência será mobilizadora.

Em minhas visitas à Bienal de São Paulo, Belo Horizonte e Rio, sempre passo um tempo a observar como os estudantes dessas excursões escolhem os livros. Muitos rodeiam as bancas com ofertas a preços mais baixos. Interessante observar que a maioria folheia os livros e compartilha suas observações com amigos. Alguns professores desenvolvem um trabalho em sala de aula para orientar essas escolhas, mas, percebemos que a grande maioria busca algo que os atraía no título, capa e apresentações em contracapas. Não importa como chegam até essas bancas! Essa escolha pode ser mobilizadora e, certamente, ele(a) irá ler ou iniciar a leitura desse livro. Tomara goste! Será uma loteria, mas se acontecer, estamos despertando um leitor. Mesmo se não gostar dessa história, terá um livro comprado e escolhido por ele.

Outro aspecto, entretanto, pode ser poderoso na formação das representações positivas sobre o livro e seus autores. O livro, nesses eventos, é o personagem principal. São grandiosos estandes e exposições, imensos cartazes, conversas com autores, filas para autógrafos. Certamente crianças e jovens em situação social mais vulnerável e que têm pouco acesso a bens culturais, em especial ao livro, ficarão impactadas com a importância que o livro e autores ganham nesses espaços. Além de ficar registrada essa experiência na memória desses estudantes, acredito que muitas crianças e jovens serão despertados para uma representação positiva quanto a importância do livro. Muitos devem passar a se interessar e a compartilhar essa descoberta e suas impressões sobre ela.

Gostaríamos que essa experiência fosse mais efetiva no despertar do interesse pela leitura, mas, frente a tantos desafios e dificuldades nessa trajetória de formação de leitores, em especial, na escola, não podemos perder essa oportunidade de despertar uma representação positiva e encantadora sobre o livro, e, de possibilitar a escolha do primeiro livro.

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