OPINIÃO

Humanidade

Estudiosos permanecem em ferrenha discussão, decidindo sobre a divisão da História da Humanidade. Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 26/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Estudiosos permanecem em ferrenha discussão, decidindo sobre a divisão da História da Humanidade. Sobre alguns pontos não há a menor dúvida: depois da descoberta da escrita, lá pelos 3000 aC, temos a Idade Antiga e a Média. Fatos humanos importantes marcam as passagens: a primeira termina com a queda do Império Romano; a segunda com a queda de Constantinopla. Aí, então, temos a Era Moderna que, segundo muitos, não teria ainda terminado.  Não haveria Idade Contemporânea, portanto. No máximo, uma Pós-Modernidade.

Mas historiadores são também humanos: discutem e brigam e têm suas razões. Alguns deles apontam fatos determinantes acontecidos entre os dias dos anos 1453 e os atuais para justificar o fim de uma era e o início de outra: a Revolução Francesa, em 1789 ou o final da Segunda Guerra Mundial, em 1944. Há quem fale da Queda do Muro de Berlim, em 1989. Mas, para muitos, teria sido o atentado às Torres Gêmeas de Nova York, em 11 de Setembro de 2001. Nunca antes o mundo teria assistido, impotente, em cores e ao vivo, tragédia, pânico, horror, algo semelhante.

Percebe-se claramente que o critério para marcar a divisão do tempo da história humana não é o das descobertas, de fatos dignificantes para o bem-estar do homem, do seu progresso, do seu caminhar em direção a um futuro grandioso.  Não. É o da destruição, ainda que se leve em conta um grande paradoxo: todas as guerras, de todos os tempos, sem exceção, contribuíram para o desenvolvimento científico.

A maior dificuldade moderna, contudo, poderia ser a dos filósofos e filosofantes na definição do que é o ser humano. Até pouco tempo atrás era sinônimo de ser racional, único animal dotado da qualidade e possibilidade de pensar, antecipar acontecimentos, aferir conclusões, agir em função de alcançar algum objetivo específico no futuro. Significação romântica. Por ela presume-se que estaríamos no topo da escala zoológica, bem situados e felizes, donos dos nossos destinos, coletiva e individualmente. Acompanhando as notícias que evidenciam a banalização da violência entre os homens; vivendo permanente clima de terror dentro ou fora de casa; inseguros quanto nossa integridade física ou moral, estamos na era da predominância do imaginário do medo. 

O ser humano tornou-se, mais que racional, um ser cruel. Cruel porque não se incomoda mais com as injustiças das quais é vítima: inventa formas de se livrar delas, não eliminá-las; antecipa formas mais eficientes de matar seus desafetos. Ainda faz guerras e as justifica. Irracional: esquece-se facilmente de suas próprias emoções e sentimentos, e se esquiva em encarar de frente os reais motivos dos desentendimentos. Na ânsia de destruir nem percebe que a Terra não lhe pertence, que usufruímos de seus benefícios por um breve momento que chamamos nossa vida. Insensível: no lugar de duas torres destruídas por sua eficiência, que significavam desenvolvimento, requinte, beleza, criatividade, trabalho e, acima de tudo, abrigo das vidas de semelhantes, constrói uma praça e o local, ao invés de marco final dos males que sua má intervenção pode causar, se transforma no ícone de um desaforo que logo, logo, sofrerá revide.

Onze de setembro de 2001. Fim da Idade Moderna, começo da Idade Contemporânea, quem sabe? Tomara surja daquelas cinzas um novo conceito de homem, o qual, finalmente apropriado de sua racionalidade, fará o mundo caminhar em direção a melhores e mais felizes dias.

Com este sonho de paz, brindemos ao futuro.

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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