OPINIÃO

Presentes

Você já ganhou um presente do qual não gostou, certeza. Vezes sem conta ficou tentado a trocar por outro, mais do seu gosto pessoal... Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 12/06/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Você já ganhou um presente do qual não gostou, certeza. Vezes sem conta ficou tentado a trocar por outro, mais do seu gosto pessoal, sob a alegação de que, desculpe, mas este aqui, não combina com você. Tranquilize-se. Todo mundo já passou por isso. Situação constrangedora, chata, você ali, com a batata quente nas mãos e a pessoa que lhe deu, também ali do lado esperando, no mínimo, um sorriso, quiçá algum agradecimento efusivo ou a surpresa e felicidade estampadas no seu rosto. Já dei um monte de presentes que foram recebidos com um “Oh-que-alegria! A-do-re-i!” Já vi outros, que comprei com muito carinho, serem jogados no sofá ou mais tarde vistos na casa de outras pessoas que não a do presenteado, repassados com embrulho de celofane e laços e tudo. Não fui a única a passar por isso, assim como já recebi oferendas das quais não gostei, que com certeza não combinavam comigo ou que nunca usei. Só que não joguei no sofá.

Depois que as pessoas passaram a se relacionar através do crivo da praticidade, as regras de civilidade passaram por profundas transformações. Como em tudo, aliás.  Antes era considerado falta de educação, hoje é “prático” trocar um presente se não gostamos dele, independente de saber ter sido escolhido exclusivamente e, assim, ser a tradução material da nossa imagem vista através dos olhos (e coração) de quem nos ofereceu o mimo.  É “prático” deixar nas lojas as listas de presentes de casamento. Num certo sentido, é mesmo. Você vai lá, escolhe alguma coisa que esteja dentro das suas possibilidades financeiras, mas alguma coisa que você também goste – e aí está a mágica restabelecida. É algo que você escolheu, com seu coração, dentro dos desejos da pessoa que você quer agradar.  Complica um pouco quando você não gosta de nada da lista, mas “tem-que” escolher dentro dela. Aí vira obrigação e a mágica desaparece...

Nada mais chato, porém, que você economizar, comprar aquele mimo que viu ser objeto de desejo da pessoa amada e, depois de guardar muitos reais, deixar de comprar para você mesmo o livro, a camiseta, a calça cobiçada... receber em troca uma peça de coleção - do que quer que seja - que veio como brinde de revista! O valor pecuniário do presente também é complicado. Se é troca - Natal, Dia dos Namorados, melhor seria que fossem equivalentes. mas fica difícil calcular. Ainda mais difícil porque estes tempos atuais são de economia e restrições. Os apelos da mídia, porém, são ferozes e vivemos bombardeados por mensagens que incentivam consumo e gastos. Infelizmente perdemos o romantismo e a rosa vermelha que um dia representou amor e paixão, se for dada sozinha pouco significa. Mesmo falsa, para algumas namoradas deve ser entregue superposta à caixa cara de alguma joalheria.

Um dos costumes mais sedimentados na Inglaterra é o uso de cartões impressos com textos comemorativos. Tem cartão de aniversário para ser dado ao pai, à mãe, ao filho, ao Espírito Santo... e o cartão de agradecimento de cada um ao doador. Tem cartão de aniversário para o dentista, o médico, o sogro, a sogra, a criança, os animais domésticos. Para os professores, para os vizinhos, de casamento, noivado, divórcio, restabelecimento, de luto, de nascimentos, para a filha, o filho, a sogra, vizinhos! Se você levar apenas o cartão para o aniversariante/noivo/viúva/formando pra quem quer que seja, você está desobrigado do presente. Mas jamais, jamais se esqueça do cartão!

Sinceramente? Para mim, antes a flor, o cartão, o abraço, o beijo, o cumprimento sincero, que o carro forte armado até os dentes com joias que nunca usarei, enfeites que não escolhi, livros que nunca lerei ou os discos da Anitta.

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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