OPINIÃO

Cibergolpes

Os crimes cibernéticos ganharam nomes sofisticados: 'Pishscam Scam', por exemplo, que é quando o ladrão se passa por empresa ou pessoa confiável. Leia o artigo de Lúcia Brigagão.

Por Lúcia Brigagão | 17/04/2022 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

Faz tempo. Ainda tínhamos telefone fixo. Estávamos apenas meu marido e eu em casa, noitinha, tocou o telefone, atendi e ouvi, juro que ouvi! A voz do caçula pedindo socorro. O chão me falhou, procurei a cadeira, acho que sentei no chão mesmo. Ele continuava a falar comigo: “Mãe? Faz o que eles querem, mãe! Eles vão me matar!”. Bestamente eu perguntava: “O que aconteceu? Cadê você?”. Cada vez mais nervoso, ele dizia não saber, mas que “o cara” ia falar comigo.

Nesse momento, meu marido entrou no escritório, estava igualmente assustado, me tomou o telefone, ouviu algumas palavras do “Eduardo” e desligou o aparelho. Enlouqueci. Fiquei histérica, ele me abraçou e disse: “Calma, mulher! Calma! Ligue no telefone do Eduardo! Isso é golpe!” Transmissão pura de pensamento, o celular tocou. Era o próprio, o supostamente sequestrado. Somente me acalmei depois de muito chá de erva cidreira e alguns comprimidos contra histeria. Por muito tempo não atendi chamado algum do telefone fixo e, do celular, apenas os de números conhecidos.

Estão voltando os golpes via celular. Muito mais sofisticados, as chamadas, via de regra, chegam identificadas com foto do filho, da filha, da mãe, da amiga, do cônjuge, junto com o pedido para substituir o número anterior para “este que está registrado aqui”.  Desliga e logo depois continua o assédio: “Mãe (amiga, querida, querido), faz um favor pra mim? Faz um Pix neste telefone porque minha conta no banco tal está com problema e eu preciso pagar o fornecedor tal. No almoço eu acerto com você!”. Se você faz, perdeu. Se você não faz acaba por se lembrar das histórias terríveis e plausíveis que escutou sobre não fazer o que o bandido quer. A mãe de uma amiga; o marido de outra; a grande amiga; o moço da feira; a balconista; o auxiliar de escritório, megaempresários, até o médico amigo –pessoas diferentes e diversas, perderam grana com estes golpes que vão de cem, duzentos, até muitos mil reais, como contaram essa semana.

Outro golpe perigoso é o do envolvimento, da sedução. A mulher, ou o homem, super bem vestida(o) aborda a vítima, pede informações. Se a rua tal fica perto ou longe; se você conhece o estabelecimento X. Diz que ela -a pessoa- coitada, precisa descontar o cheque polpudo, mas o caixa não quer realizar a transação; como você pode me ajudar? Você parece ser pessoa “do bem”: você pode ir comigo no banco aqui perto e me ajudar? Você é daqui? E vão perguntando, seduzindo, envolvendo, hipnotizando. Aí chega o comparsa, entra na conversa, confirma a história, elogiam o gesto fraterno, ajudam a ludibriar a vítima, que só sai do torpor quando é deixada só. Volta a si, se percebe agredida, enfraquecida, lesada, machucada, cansada como que surrada e envergonhada, profundamente envergonhada.  Aí a gente pergunta: “Você alguma vez caiu num conto do vigário?” O pejo é tão grande que a pessoa lesionada primeiro nega, mas, depois, timidamente responde que sim. Depois do golpe, do torpor, da volta à consciência, ficam envergonhadas. Sentem-se idiotas; se perguntam como puderam cair no que nossas avós chamavam de “conto do vigário”...

Os crimes cibernéticos ganharam nomes sofisticados: Pishscam Scam, por exemplo, que é quando o ladrão se passa por empresa ou pessoa confiável e solicita ao incauto, depois de muita conversa mole e técnicas de persuasão, seu cartão de crédito e senhas até selfies de documentos, data de nascimento, CPF e situação civil. O golpe do Pix já ficou obsoleto, logo teremos notícias de diferentes ameaças, fazendo mais vítimas e tornando o mundo do cibercrime mais ousado e impune.

Nada alvissareiro, nosso país exibe o título de segundo país no mundo com maior número de crimes cibernéticos. Outro triste título que carregamos.

Lúcia Helena Maniglia Brigagão é publicitária e escritora.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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