OPINIÃO

Dia do aviador

Voar é o vento, a turbulência, o cheiro do escapamento, o ronco do motor, é a chuva na face, o suor escorrendo do capacete, ouvir o vento gemendo nos tirantes, ter apenas um cinto de segurança entre o piloto e o chão em um vôo invertido, é a adrenalina despejada no corpo a cada “susto”.

Por Toninho Menezes | 22/10/2021 | Tempo de leitura: 3 min
especial para o GCN

O que nos faz voar, seja lá o que for, é a mesma coisa que atrai o marinheiro para o mar. Algumas pessoas jamais compreenderão isto e nós não podemos explicar-lhes. Se elas estiverem dispostas, poderemos mostrar-lhes, mas nunca dizer-lhes.

No dia 23 de outubro comemora-se o dia do aviador. É sonho de muitos pilotar aviões, mas a aviação é indescritível. Vestir um macacão de vôo (alguns com sistema anti gravidade), um capacete, sentar-se em um assento ejetável e principalmente ter a certeza que domina todo o painel de instrumentos, de que é capaz de acionar o avião, segurar o manche, decolar e pousar com segurança. Porém, entre os sonhos e a realidade de se tornar um aviador, há um imenso caminho a percorrer. É preciso estudar muito e constantemente atualizar-se, ter uma saúde perfeita e muita, mas muita disciplina.

Caros leitores, pedimos licença para sairmos dos tradicionais comentários semanais, para sumariamente abordarmos o “dom de voar”, o “voar pelo prazer de voar”.

Quando décadas atrás nos perguntavam por que voávamos, a resposta era simples: é porque não nos sentíamos felizes quando não havia um pouco de ar entre nós e o chão! Já repararam que quando pilotos falam de aviões, nenhum deles faz menções a viagens? Ou a economia de tempo? Ou a utilidade do avião? Nada disso é tão importante e não é essa a razão principal que leva homens e mulheres a alçarem seus vôos.

Voar é o vento, a turbulência, o cheiro do escapamento, o ronco do motor, é a chuva na face, o suor escorrendo do capacete, ouvir o vento gemendo nos tirantes, ter apenas um cinto de segurança entre o piloto e o chão em um vôo invertido, é a adrenalina despejada no corpo a cada “susto”.

A data nos faz rememorar os tempos da Academia da Força Aérea, na cidade de Pirassununga, quando no Dia do Aviador (23 de outubro) havia os famosos bailes militares, todos fardados, comidas e bebidas livres, orquestra de primeira linha. Rapazes com muita ousadia e audácia no manejo de aviões, mas sem nenhuma coragem de chamar uma moça para dançar. Igualzinho aos bailes que assistíamos nos cinemas. Momentos inesquecíveis.

Apesar das várias experiências que tivemos, nos trás muitas recordações, uma em especial, para ajudar o Aeroclube de Pirassununga, quando na época da colheita de algodão, na cidade de Leme, próximo à rodovia Anhanguera, utilizávamos uma pista em meio a um canavial, logo atrás do Clube Empyreo, para fazermos vôos panorâmicos, ou um vôo com “mais emoção” a pedido do cliente. Começávamos a voar com o nascer do sol e não parávamos senão à noite. Filas e filas, pessoas querendo voar. Bons tempos aqueles, dias de céu azul, ar límpido e de liberdade indescritível.

Os tempos se foram. Vá aterrissar hoje seu velho avião em uma pista abandonada e muito provavelmente você irá, no mínimo, ser processado por invasão de domicílio, além de quererem tomar o seu avião por perdas e danos e alegar que ameaçou a vida da família quando sobrevoou sua propriedade, que o barulho do motor afetou a produção dos animais etc..

Também não haveria clientes para voar, pois nem graciosamente alguém iria querer subir em um avião de mais de oitenta anos, de nacele aberta, com o vento e o óleo em seus rostos, sem nenhum tipo de apólice de seguro. Realmente será que nos dias atuais alguém pagaria para tudo isso?

Enfim, pilotos civis e militares celebram a data por todo país. A celebração de um sonho único, pois homens e mulheres ao se tornarem pilotos de aviões compreendem o gigantismo da missão que abraçaram na vida com as asas que ganharam do destino. Parabéns a todos!

Toninho Menezes é professor universitário e mestre em Direito Público. Foi piloto de caça da Força Aérea Brasileira.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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