Tomara!

Por Lúcia Brigagão | 13/02/2021 | Tempo de leitura: 3 min
Especial para o GCN

Já sonhei que estava exposta aos olhares alheios só com roupa de baixo na rua. Já sonhei que estava nua e tentava fugir dos olhares perscrutadores e maliciosos dos outros cidadãos. Já sonhei que caía no precipício e ninguém movia uma palha para me ajudar. Já sonhei que escorregava, voava por sobre a proteção de grade de proteção e ia direto, do piso para o mar. Alto mar. Já acordei suando por causa desses pesadelos, mas nenhum deles me foi mais ameaçador, triste, desesperado e desesperançoso que este causado pela atual pandemia provocada pelo covid. Não apenas eu, mas todos fomos afetados por ela. A começar das crianças, até idosos de idade bem avançada, passando por jovens e maduros. Ninguém escapou do medo, da aflição e, pior, dos efeitos.

Estamos sob a ameaça de inimigo desconhecido, que não tem rosto e, pior, é absolutamente invisível. Pode ser que esteja à nossa espreita ao entrarmos no carro, no cumprimento de alguém com quem nos encontramos mesmo que fortuitamente, no simples cruzar na rua com nosso semelhante. O bicho é insidioso e, embora invisível, é poderoso. Quando saímos de casa, não sabemos como iremos voltar. Lavamos as mãos, tomamos banho, passamos álcool, trocamos os sapatos, mas a nuvem negra do medo não sai de sobre nossa cabeça. A humanidade já enfrentou outras epidemias, conseguiu resistir e superar. Talvez a atual, por nos ser mais próxima, é mais ameaçadora. Pode ser.

A gripe espanhola, por exemplo, considerada a pior das pragas e que nada tinha de espanhola, teve origem nos estados americanos e matou de 50 a 100 milhões de pessoas no espaço de 1918 a 1919. Provocou mais mortes do que o montante resultante das duas grandes guerras; superou o número de vítimas da aids em 40 anos. Foi e é ainda, a maior pandemia de que se tem notícia. Só no Brasil foram cerca de 35 mil óbitos, dentre os quais, o do presidente da república da época, Rodrigues Alves.

A pandemia atual deveria ser conhecida como chinesa, por causa de sua sabida origem. Mas, curiosidade, a outra brutal epidemia cujas cifras são igualmente aterrorizantes, tornou-se “espanhola” porque a Espanha que era um dos poucos países neutros durante a Primeira Guerra, teve imprensa livre para noticiar a doença, o que na época foi proibido inclusive pelos Estados Unidos, fator fundamental para disseminar o mal. Justificativa do segredo: as más notícias poderiam abalar a população e os soldados. Ao se manter a epidemia em segredo, ela teve rápida disseminação. O desconhecimento do inimigo e suas consequências igualmente ajudaram a propagar os efeitos do covid e evitaram a tomada de medidas preventivas contra ele. O que teria acontecido se a China tivesse contado ao mundo sobre o novo vírus? Essa é a pergunta que o mundo faz e que não tem resposta.

As populações estão sendo vacinadas e, espera-se, em algum tempo teremos o vírus – que tão duramente nos atingiu, saindo de cena, da mesma maneira abrupta que chegou. Mas ainda falta algum tempo, acredito. Quando sair, deixará atrás dele escombros, devastação, tristeza, perdas irreparáveis, mágoas, sensação de vazio, impotência, muito medo, sentimentos que não possuem antídotos ou lenitivos. Tomara que tenhamos força para renovação, reconstrução, para nos reerguermos da tristeza e partirmos para a reedificação de nossas vidas. Tomara!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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