Piauí

Em viagem a Fortaleza, décadas atrás, o avião fez escala em Teresina. Os aeroportos não tinham a sofisticação atual.

22/02/2020 | Tempo de leitura: 2 min

Em viagem a Fortaleza, décadas atrás, o avião fez escala em Teresina. Os aeroportos não tinham a sofisticação atual, a aterrissagem seria em pista de asfalto, circundada por campo de terra. De dentro da aeronave pelas janelinhas víamos subir das laterais da pista holograma que parecia nácar perolado, volátil. Estranhamente belo. Era o calor subindo. Abriram as portas da aeronave, pensei que chegara ao inferno. O calor era tanto, mas tanto, que em segundos substituiu o friozinho do ar condicionado e nos deu a sensação de que o diabo em pessoa viria nos receber. Minutos depois saímos de lá rumo ao destino final.

Em casa, à menção do lindo nome da cidade, que depois soube era homenagem à Imperatriz Teresa Cristina, minha temperatura subia. Alguns anos se passaram, convidaram-nos a voltar a Teresina. Surpresa! O queixo caiu e minha boca não fechou mais. Abri os olhos e, embora pálida de espanto, olhei o entorno mais acuradamente. Estranhei o sotaque do pessoal de terra. Olhei o termômetro, não me senti mal, como antecipara. As informações da revista de bordo davam àquela capital, única capital nordestina a 343km longe do mar, os epítetos de Mesopotâmia Brasileira, Cidade do Futuro, Cidade Verde, Terra da Cajuína, VerdeCap e Chapada do Corisco – pela grande incidência de raios. Puro pré-conceito, achei que encontraria miséria e pobreza, terra fendida, secura e absoluta ausência de umidade, meninos barrigudos, bois morrendo e o povo comendo calango. Teresina seria o estado mais pobre da União. Mas era a terra de Indalécio Wanderley, fotógrafo famoso da revista O Cruzeiro, leitura obrigatória nos anos 60 e 70. Por causa da chuva, a cidade estava encoberta, não havia teto. Fizemos parada em São Luiz. Chegamos ao destino horas depois. Ao abrir as janelas do quarto do hotel, surpresa! Árvores imensas ao longo de ruas e praças, caudaloso rio ao fundo e a marca do termômetro: não chegava a 30 graus...

O hino local chama-a de Terra Querida, expressão que aparece nos quadros das instituições públicas e na parede do barzinho onde almocei comida da terra – Maria Isabel, arroz com carne seca em pedacinhos. De sobremesa, beijú de coco, feito de farinha de tapioca e coco babaçú, regado a umbuzada - umbú com leite, adoçado com rapadura. Inesquecível. Dados atuais: Teresina possui 865 mil habitantes, é a capital mais desenvolvida do Nordeste, a 12º do Brasil. Lá existem shoppings, jardins botânicos, parques ambientais, bibliotecas públicas, mais de vinte hospitais e clínicas e recheado calendário de eventos culturais. Um deles é o concorridíssimo Salão de Humor. O lençol freático do Piauí é um dos maiores do mundo, a ponto de ser problema para as construções. E a arte e a cultura piauienses têm suas manifestações espalhadas pelo Brasil e pelo exterior. Saudades do Piauí... E choro ao ouvir Existirmos: a que será que se destina?
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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