Cinco minutos

Faz uma semana que nenhuma conversa em Franca termina sem algum comentário sobre a trágica e brutal execução de Jéssica Carloni

09/02/2020 | Tempo de leitura: 3 min

“Quanto menor o coração, mais ódio carrega”
 Victor Hugo, escritor francês

 

Faz uma semana que nenhuma conversa em Franca termina sem algum comentário sobre a trágica e brutal execução de Jéssica Carloni, numa chácara do Residencial Zanetti, lotada de gente que comemorava um aniversário. O algoz de Jéssica foi seu ex-marido, Antônio Rodrigues, o Buiú. Juntos tiveram uma filha, hoje com 6 anos.

Diante de tudo o que houve, duas perguntas têm sido repetidas à exaustão. A primeira: por que, se ela havia recorrido a uma medida protetiva, não chamou a polícia assim que ele chegou? A segunda: se havia tanta gente na festa, por que ninguém fez nada?

Assisti o vídeo das câmeras de segurança da chácara obtidas com exclusividade pelo Comércio. As imagens, perturbadoras, esclarecem pontos importantes e ajudam a tirar dúvidas. A principal delas é que, diferente da impressão de algumas testemunhas, Antônio Rodrigues não ficou meia hora no local. Entre chegar e atacar a ex-mulher, passam-se apenas cinco minutos.

São 17h10 quando Buiú chega. Ele conversa com alguns rapazes. O papo dura pouco mais de 3 minutos. Às 17h14, ele deixa o grupo, passa pelo portão e vai até seu carro buscar a faca. São 17h15 e ele retorna pelo jardim, já no rumo de Jéssica, que conversava com amigos. A faca cai do bolso. Ele para, apanha a faca e retoma sua caminhada. Não fala nada, não chama Jéssica para conversar. Ela está de costas, sentada. Precisamente às 17h15m40s, Buiú dá o primeiro golpe na ex-mulher. Outros tantos se seguem numa explosão de ódio e fúria. Imediatamente as pessoas começam a deixar o local.

Há que ser feita justiça para um rapaz magro, sem camisa, o único que tenta ajudar. Dez segundos depois do ataque começar, às 17h15m50s, ele empurra o agressor e faz gestos para que Buiú pare. Ninguém o ajuda. Buiú ameaça esfaquear o rapaz que, sem apoio de mais ninguém, desiste de intervir.

Às 17h17m, as câmeras captam quão sórdido e insensível pode ser um ser humano. Um outro frequentador, que a tudo assiste, impassível, caminha lentamente para fora carregando o cooler de cerveja junto consigo, como se estivesse assistindo a um filme que chega ao final.

Dois minutos se passam e não há mais praticamente ninguém no recinto além do assassino e da vítima. O rapaz do cooler volta – sem o cooler. Conversa com Buiú e aparentemente o aconselha a fugir dali. O assassino então deixa a chácara às 17h21m26s e vai para o seu carro. Um minuto depois, volta. Gesticula e fala alguma coisa em direção ao corpo de Jéssica. Descontrolado, chuta a cabeça da vítima e pisa em seu corpo. Depois, lava as mãos e, enfim, deixa o local. Minutos mais tarde, seria preso pela polícia, sem esboçar qualquer reação. Confessou o crime e teve a prisão preventiva decretada.

Quanto à primeira pergunta, ainda que Jéssica tivesse pensado em sair dali ou chamar a polícia, é difícil que tivesse condições de fazer uma coisa ou outra. Mesmo que tivesse acionado o 190, é improvável que qualquer viatura conseguisse chegar a tempo de evitar o ataque. Jéssica era uma presa sem chance de defesa. Buiú esteva determinado a matar. E matou.

Sobre a segunda, é certo que o instinto de sobrevivência falou mais alto. Tão humano - e tão indigno. Lamentavelmente, com exceção feita a um único rapaz, ninguém fez qualquer gesto para, nem mesmo, tentar ajudar. Os “amigos” converteram-se todos em meros espectadores. Jéssica está morta, Buiú está preso, os “amigos” seguem com suas vidas. Só não sei como farão com suas consciências. Isso, se tiverem alguma.

 

Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - junior@gcn.net.br
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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