Ai!

Tempo de pedir perdão a pessoas que fizeram parte daquele passado de ativista. Discutia com figuras da cidade que deviam

14/12/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Tempo de pedir perdão a pessoas que fizeram parte daquele passado de ativista. Discutia com figuras da cidade que deviam se rir da pirralha que levantava ainda mais o já empinado nariz e exaltava as qualidades de ideal do governo socialista no qual todos os cidadãos seriam iguais diante da Lei (pero no mucho); todos teriam oportunidades iguais de condições de vida (pero no mucho); todos teriam livre acesso ao conhecimento e cultura (pero no mucho); oportunidades de crescimento pessoal e livre iniciativa seriam incentivadas (pero no mucho). Ridícula e precocemente cobria-se de preto, carregava sob os braços livros de Beauvoir, Sartre e O Capital; fã de ficção científica, daí Huxley e Sagan. Deixava em casa os romances melosos da Coleção das Moças – Mme Delly e Concordia Merrel - , longe dos olhares perscrutadores daqueles a quem chamava patrulheiros e oposição. Certa vez fugiu para ouvir Frei Beto (ídolo comunista da época) fazer discurso para a juventude. Descoberta, ficou reclusa em casa um mês, sem ler, sem sair. Poderia viajar, ser independente, quando tivesse idade e competência – quando ganhasse seu próprio dinheiro. Aí disporia dele como bem entendesse. Enquanto dependente financeiramente, tinha cartilha a seguir. Passou a fase. Passou o tempo.

Lá na frente, ouviu falar de ex-metalúrgico com discurso e perfil diferentes dos políticos da época, ansioso por tempos melhores, que falava em igualdade, falava em acabar com o analfabetismo, com as más condições de vida de brasileiros, com a seca e a sede, elevar o padrão de higiene e prevenção de doenças que matavam por causa da falta de saneamento básico. O bichinho vermelho adormecido, acordou. Acreditou. Votou nele. Não deu certo. Hoje ela se arrepende, bate no peito e se culpa.

Pior é sentir que favoreceu o aparecimento de nova classe de cidadãos facilmente identificáveis, pois que se acham absoluta e inquestionavelmente certos. Tem sempre algum deles pertinho da gente. Observe algumas de suas típicas manifestações. São intolerantes com quem se opõe às suas idéias, são protetores de bandidos que chamam de desprivilegiados e desamparados. Afirmam que elogio de homem à mulher é considerado ofensa. Acreditam que homens e mulheres são iguais por dentro e por fora. Ofendem-se quando encontram alguém que não pactua com suas idéias e consideram o opositor, no mínimo, estúpido. Para eles liberdade é direito e não conquista. Comem caviar escondido, acompanhado de finos vinhos, na mesma mesa onde discursam contra a miséria do mundo. São cegos para os defeitos de seus iguais, e os defendem. Têm absoluta certeza de que são mais esclarecidos. São agressivos nas discussões. Defendem ideologia de gênero que consideram “construções sociais”. Zombam do respeito às religiões, acreditam-se no direito de fazê-lo. Cresceram e se disseminaram muito nos últimos tempos. Tenho fugido deles, feito o diabo da cruz.

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

  

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