Primogenitura

Irmãs mais velhas sofrem. Irmãs mais novas, só aproveitam. São privilegiadas.

23/11/2019 | Tempo de leitura: 3 min

Irmãs mais velhas sofrem. Irmãs mais novas, só aproveitam. São privilegiadas. Extrema, total e absolutamente privilegiadas. Têm mais regalias, gozam de mais vantagens, prerrogativas, suas preferências são atendidas primeiro. Irmãs mais velhas querem sapatear de tanto ouvir “você é mais velha, tem condição de entender melhor”, embora a diferença de idade entre ela e a caçula, muitas vezes não ultrapasse dez meses. Irmãs mais novas são tratadas como se tivessem dez anos, mesmo que tenham o dobro. Ou melhor, as mais velhas envelhecem, enquanto as mais novas continuam por anos, como tendo dez anos, no comportamento e privilégios. Nem por isso são punidas, qual irmã mais velha não protege a caçula?

As primogênitas no geral não são tão bonitas quanto a caçula. E jamais tão bem arrumadas, penteadas, com os laços no lugar. E nem teria como, pois rotineiramente obedecem à ordem: “vai se arrumando, você já é grande, eu vou ajudar sua irmã!”. As mais velhas são mais inteligentes e aprendem a ser generosas na marra, porque não suportam o olhar de piedade que lhes é lançado na hora da caçula assumir algum mal feito. Para justificar a lição escolar não feita, por exemplo – as irmãs mais novas lançam mão facilmente da explicação, da desculpa mais que mal esfarrapada (e mentirosa): “ela não quis me ensinar”! Por ela entenda-se, a mais velha... E as mães acreditam! Para as mais novas, os elogios, a supervalorização de atitudes, o xampu de marca trazido pela avó, o perdão, às vezes as paqueras, regalias – por que ela (a mais nova) pode ir sozinha ao cinema e eu (a mais velha) não podia? Resposta que fere: - porque ela (a mais nova) teve sorte: veio mais tarde e vimos que você (a mais velha) sabe defendê-las (as duas)...

Quero crer que a empatia que sinto por amigas, conhecidas e figuras da mídia que também sofrem de primogenitura – venha da experiência e vivência trazida por esta situação familiar, que também, e por acaso, é a minha Não conheço uma sequer que não defenda suas irmãzinhas; que não vendam um rim para lhes dar um colar de pérolas; que não assumam qualquer malfeito delas; que não se derretam diante da exaltação positiva que lhes possa ser feita; que não abram mão de serem recompensadas, para que o prêmio seja dado à mais nova; que não sinta na pele o arrepio provocado pela felicidade da irmã, ou das irmãs mais novas. Pensando bem, ser filha única tem suas vantagens e desvantagens. Se a pessoa não divide com ninguém seu cotidiano, ela não saberá o quanto é bom quando a vida dá uma volta e precisamos de colo, que a caçula nunca nega...

Pensei tudo isso ao assistir, em um dos capítulos do The Crown, a série que está sendo comentada em Londres em todos os meios de comunicação, sobre o que se passou durante a infância, juventude e até na maturidade, entre a meiga, doce e delicada Princesa Margareth, irmã mais nova, e a firme, fria, impiedosa e sem coração Rainha Elizabeth, irmã mais velha.

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

  

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