Cinema & Psicanálise

Cidade dos anjos

O filme conta a história do Seth (Nicolas Cage), um anjo que vaga por Los Angeles e descobre o sofrimento de Maggie.

19/10/2019 | Tempo de leitura: 3 min

José Cesário Francisco Junior 
Adriana Vilela Jacob Francisco
Especial para o comércio

“Fall in love” ou a queda rumo à humanização.
 
O filme Cidade dos Anjos, que será apresentado e discutido no projeto Cinema & Psicanálise do grupo de Psicanalistas de Franca, contém assuntos instigantes, tratados com a delicadeza e o balanço sensível de um romance.
 
Baseado no filme de Wim Wenders, Asas do Desejo, apresenta em “uma pintura” fílmica, a paixão entre duas pessoas e nos convida a nos voltarmos para questões muito pessoais, dentre outras, a impessoalidade. 
 
Se estivermos disponíveis para pensar, podemos mergulhar nos obstáculos humanos para nos relacionarmos. Na película, dois personagens se destacam: Seth e Maggie. 
 
Seth (Set), para os egípcios e gregos era um deus complexo: o deus do Caos, da seca, da guerra. A escolha deste nome para o personagem central não é casual. Do encontro de Seth com Maggie, surge a confusão, a desordem e a perturbação, com as quais eles vão se haver, o que reverencia a vida real.
 
O personagem que traja cores escuras, preto e cinza; olhar fixo; mímica facial rígida com ausência de um sorriso natural, espontâneo e verdadeiro; movimento corporal sem coordenação e andar em bloco; tom de voz monocórdico, lembra um vivo-morto, que passa pela vida tangencialmente. Erudito, acadêmico que vive na biblioteca, vive para sua função. Não existem família, mulher, filhos, pai, mãe, irmãos. Assiste à vida, não participa dela. Não sente o gosto de gente, nem do que come e bebe. Uma vida robótica e automática. Esta é a característica pessoal: impessoalidade! 
 
Nesta alegoria, a experiência do encontro, o setting, nos coloca em contato com vivências “à moda de carne viva”, do “sem pele”, e que requerem uma palavra para significá-las, daí Seth.
 
Meggie, que em inglês nos remete à pérola, um mecanismo de defesa das ostras quando invadidas por parasitas invasores ou objetos estranhos, os ataca utilizando-se de uma gosma (nácar ou madrepérola) que reveste uniformemente aqueles que a penetram, isolando o perigo. 
 
A personagem, uma médica cirurgiã cardio-toráxica, se desenvolvendo, bem-sucedida, com sua carapaça racional e eficiente, sofre o impacto de não conseguir salvar seu paciente. Ao perdê-lo na mesa cirúrgica, se dá conta de que mesmo usando seu conhecimento e técnica apurados não pode evitar a morte. Surge o inquietante questionamento desorganizador: “Se não posso evitar a morte, pra quê?” 
 
O encontro dos personagens possibilita que os dois vivam rupturas e quedas, psicodramatizadas externamente. Embora o filme aborde problemas semelhantes para os dois personagens, a morte em vida e o apaixonamento (fall in love), como tentativas de contactar a vida, Seth e Maggie vivem caminhos distintos na maneira de lidar com o “invasor”.
Se pudermos nos utilizar da pintura fílmica para pensar, com cuidado e atenção, voltaremos aos seguintes questionamentos:
 
Será que precisamos de viver primeiro externamente para depois nos voltarmos para nossa vida de realidade interna? Primeiro sentimos, depois pensamos? Seria esta uma outra questão narcísica? Sempre chegamos atrasados? 
 
Sejam bem-vindos a uma conversa onde espero que, no setting presencial, possam surgir novas ideias!
 
Estão todos convidados para este encontro hoje, às 15h, no Anfiteatro do Centro Médico, e passear pela vida. 

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