Juro que é verdade

A coisa mais comum e frequente em política é que se culpem os adversários – ou inimigos – pelos próprios fracassos.

13/10/2019 | Tempo de leitura: 3 min

“A vida está cheia de uma infinidade de absurdos que nem sequer precisam parecer verossímeis porque são verdadeiros”
 Luigi Pirandello, dramaturgo italiano


A coisa mais comum e frequente em política é que se culpem os adversários – ou inimigos – pelos próprios fracassos. Atribui-se a outros a responsabilidade pelo que não dá certo, alivia-se a própria consciência e evita-se a necessidade – e as dificudades – de assumir as rédeas do próprio destino. Tudo, absolutamente tudo, é “culpa” do outro. Nunca, jamais, em tempo algum, é de si mesmo. A realidade que vejo não podia ser mais diferente.

Em grande parte das vezes, o problema surge única e exclusivamente das falhas ou omissões cometidas por aqueles que têm a obrigação de resolver a questão – muito mais do que em função da ação dos “opositores”. É fogo amigo, 24 horas por dia. E assim, multiplicam-se problemas, desgastes, frustrações.

Um exemplo perfeito aconteceu na tarde da última quinta-feira, quando houve a reunião semanal da Comissão de Legislação, Justiça e Redação da Câmara Municipal, que presido. Havia poucos projetos a serem analisados. O mais complicado parecia ser o que cria cargos para servidores concursados, mas o absurdo surgiu de onde menos poderíamos esperar.

O prefeito Gilson de Souza (DEM) havia encaminhado um outro projeto, simples, que destina R$ 80 mil para a AEAF (Associação das Entidades Assistenciais de Franca). O dinheiro é para ajudar na realização da tradicional Feira da Fraternidade. A posição do Jurídico era favorável, a dos membros da comissão também parecia ser.

Quase sempre acompanha a reunião alguém da Udecif (União de Defesa da Cidadania de Franca). Às vezes, representantes de grupos que têm interesse na discussão de algum projeto. E, não raro, membros do governo municipal, usualmente para defender a viabilidade técnica de projetos mais polêmicos. Improvável seria imaginar alguém do governo bombardeando uma iniciativa do próprio governo. Pois foi exatamente isso que aconteceu na última quinta-feira.

Ronaldo Rogério, coordenador administrativo da secretaria de Ação Social, pediu a palavra. Ele não estava ali para defender o repasse. Pelo contrário, queria contestar. É isso mesmo. O ocupante de uma função de confiança na estrutura do governo Gilson de Souza estava ali para bombardear uma destinação de verbas feita pelo próprio prefeito. O espanto foi geral.

Primeiro, Ronaldo disse que havia sido surpreendido pela decisão. A verba que vai para a Feira da Fraternidade sai do orçamento da secretaria de Ação Social e, aparentemente, ninguém conversou com os responsáveis pela pasta antes de encaminhar o projeto. Depois, Ronaldo questionou também alguns aspectos formais – que estavam corretos, registre-se. Por fim, lamentou a decisão do governo – do qual, insisto, ele faz parte.

Do ponto de vista legal, o projeto está adequado. Autorizar ou não o repasse depende agora do voto dos vereadores. É pouco provável que seja rejeitado, tanto quanto é muito provável que a postura de Ronaldo Rogério resulte em muita polêmica no plenário. É um caso claro em que as sequelas não serão resultado da ação da oposição, mas do próprio Executivo. É mais do mesmo. Na Franca de hoje, o maior inimigo de Gilson de Souza é o próprio governo Gilson de Souza. Por mais absurdo que possa parecer, essa é a melancólica realidade.


Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - jrneves@comerciodafranca.com.br
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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