Gestos

Moro em rua movimentada, larga, permissão para estacionamento dos dois lados, mão única. Trânsito complicadíssimo, agravado

05/10/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Moro em rua movimentada, larga, permissão para estacionamento dos dois lados, mão única. Trânsito complicadíssimo, agravado pelo aumento de carros pilotados por motoristas apressados, atrasados. E mal educados. O perfil automobilístico francano, depois que carro passou a ser objeto acessível a praticamente todos, piorou sensivelmente. Nossa rua, que dá acesso a bairros movimentados e avenidas da periferia, é passagem para escolas e por onde universitários transitam. Panorama ruim? Pois fica pior: motos, as malditas motos e seus loucos condutores que sobem a rua fazendo piruetas, driblando carros, buzinando...

No início da construção da casa a rua era mão dupla. Carros e ônibus e caminhões subiam, disputando chegada a lugar nenhum e desciam, na banguela. Acidentes, praticamente todo dia. Nosso terreno está numa esquina, os muros das laterais são muito altos por causa do declive do terreno. O mestre de obras recebeu carta branca para não economizar no cimento. Levantou muro de quase vinte metros pelo lado interno, cinco, do lado de fora. Concreto puro. Meu sonho é ver motorista se esborrachar naquele paredão, depois de desafiar a Lei da Gravidade, a do bom senso ou desrespeitar alguém.

Recentemente pretendia entrar em casa pelo portão da garagem, sinalizei minha intenção, diminuí a velocidade do carro. Havia carros estacionados de ambos os lados da rua. Acionei o controle e esperava o portão abrir. Fui surpreendida pela moto pilotada por moça, com garupa que, além de ignorar todos meus sinais, por um triz não me pega, e se esborracha. Irritadíssima, gritou, levantou braço direito, estendeu seu dedo médio, fechou outros transeuntes, saiu gritando.

Ia entrar em casa, mas decidi seguir atrás dela. Saí buzinando na sua rasteira, pedia-lhe que parasse. Ela aumentou a velocidade. Atravessou ruas sem olhar, cruzou avenidas com manobras radicais. Sumiu. Não consegui falar com ela. Tanscrevo aqui, o que lhe diria. Muita gente viu, alguém há de passar-lhe meu recado.

“Moça, você quase provocou uma tragédia. Ficaria péssima, me sentiria moralmente cúmplice do seu suicídio. Mas o portão da minha garagem tem câmera, seria fácil provar que eu estava dando seta, que diminuí a velocidade, e que você ignorou. Você queria passar por cima. O gesto que você fez com a mão, agressivo, obsceno e chocante deixou-me estarrecida. Eu tenho boca suja, falo palavrões, mas aquela mímica eu não sou capaz de fazer. Acho-a deselegante, imoral, grosseira, vulgar. Você, não, eu vi. Se você tivesse se ferrado, eu entraria em casa, esperaria pela polícia com o vídeo na mão e muitas testemunhas. Você iria para o necrotério. Sentiria muito, mas lavaria as mãos. Sabe por quê? Por respeito às escolhas que todos fazemos, a toda hora. Eu respeitaria a sua. Lamento o que você não viveu, lamento por seus pais, que não demora, ficarão sem você. Às vezes o que a gente procura, de repente acha. “Cuidado, moça, com seus desejos!”

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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