Corrêa Neves Jr

Um pão a mais


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Foi uma “tempestade perfeita”, que atingiu com força os mais pobres e provocou, em Franca, um fenômeno que, se não era inédito, certamente é tão raro quanto um trevo de quatro folhas: um protesto, na Câmara de Vereadores, contra um projeto do governo que, se aprovado, teria baixado a passagem de ônibus. No mundo inteiro, a revolta acontece quando a tarifa sobe. Em Franca, aconteceu o oposto. O desfecho é conhecido. Faltaram votos. Faltou comunicação. Em grande medida, faltou também bom senso.

Três fatores estão na raiz do resultado que, por 10 votos contra 4, barrou a redução de R$ 0,20 no preço da passagem. Uma medida importante, que beneficiaria imediatamente 38 mil pessoas que utilizam e pagam pelo transporte coletivo todos os dias e que, agora, ficam sem serem beneficiadas.

O primeiro, o prefeito Gilson de Souza (DEM), confuso e difuso como sempre, que falhou miseravelmente em explicar às pessoas que subsídio existe em dezenas de áreas atendidas pelo governo. E que o dinheiro destinado para o transporte coletivo iria diretamente para baixar o preço da passagem de ônibus e, não, para aumentar o lucro da São José. A empresa ganha R$ 4,10 por passageiro transportado e continuaria ganhando o mesmo. O dinheiro público bancaria o desconto de R$ 0,20, que possibilitaria ao usuário pagar R$ 3,90.

O segundo, a postura beligerante de parte da oposição, que aposta no quanto-pior-melhor para bombardear qualquer iniciativa que venha do paço municipal. Foram proativos ao confundir, com dados errados, e arregimentar, com retórica eficiente, um grupo de simpatizantes, boa parte deles pré-candidatos a vereador ou apoiadores de quem quer ser prefeito a qualquer custo. Apesar de pouco numeroso, o grupo era ruidoso, especialmente nas redes sociais, onde difundiram a ideia, equivocada, de que “o dinheiro era para a São José”.

O terceiro, os próprios vereadores da base de apoio, cada vez mais insatisfeitos com a lentidão do governo na mesma proporção em que se preocupam com reeleição. Acuados e sem encontrar respaldo numa administração perdida em reuniões inúteis e burocracia mastodôntica, apostaram no voto “não” para se livrar da pressão e, de quebra, mandar uma dura mensagem ao prefeito. A um custo altíssimo, registre-se, que impacta diretamente nos mais carentes.

Os fatos são simples. É verdade que o prefeito Gilson de Souza (DEM) errou em ignorar os prazos e alertas e deixar para discutir o sistema de transporte coletivo quando não havia mais tempo para abrir uma licitação. É evidente que a empresa São Jose precisa investir e melhorar, muito, o serviço que presta à população. Não resta a menor dúvida de que a Emdef, gestora do contrato, tem que aprimorar seus mecanismos de controle e fiscalização. Mas nada disso anula o fato, incontestável, de que com um impacto mínimo no orçamento municipal (menos de 0,2%) - de um dinheiro já reservado para esse fim - podíamos ter baixado a tarifa.

A decisão representaria uma economia de R$ 0,20 por passagem, ou R$ 0,40 por usuário/dia, capaz de colocar um pão a mais na mesa do trabalhador. Ou de garantir R$ 120 no fim do ano para quem luta com tanta dificuldade. Dói, porque apesar dos problemas, a gente podia ter feito história e baixado a passagem. Não deu. Venceu a tormenta raivosa. Perdemos todos nós. 

Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.

email - jrneves@gcn.net.br

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