Por que ainda imprimir?

Quando o Comércio foi fundado por José de Mello e circulou pela primeira vez, na tarde de quarta-feira de 30 de junho de 1915, o mundo era c

14/07/2019 | Tempo de leitura: 3 min

“Existe uma terrível desvantagem de não ter a qualidade abrasiva da imprensa aplicada a nós todos os dias... mesmo que não gostemos, mesmo que desejássemos que não ivessem escrito, e mesmo que não aprovemos, não existe nenhuma dúvida de que não faríamos o nosso trabalho numa sociedade livre sem uma imprensa ativa, muito ativa”
 John Kennedy, presidente americano

 

Quando o Comércio foi fundado por José de Mello e circulou pela primeira vez, na tarde de quarta-feira de 30 de junho de 1915, o mundo era completamente diferente. Energia elétrica era novidade e em muitas casas o lampião a gás ainda era o que garantia a luz. Pelas ruas de Franca, carros eram exceção num trânsito dominado por cavalos e carroças. O rádio não havia sido inventado, muito menos a televisão. Voar era coisa de louco – fazia então menos de 10 anos que Santos Dumont decolara com o 14 bis e assombrara o mundo no campo de Bagatelle, em Paris.

O mundo estava em guerra, travada nas duras trincheiras da Europa. A população, aqui e em quase toda parte, vivia no campo. Ler e escrever não era para qualquer um. Geladeira ninguém tinha. O fogão, era a lenha. E o telefone, privilégio de pouquíssimos. As notícias chegavam às pessoas através do jornal, impresso no papel, com o indefectível cheiro de tinta. Os leitores, naquele início do século passado, estavam ávidos por informação. E por jornais.

Cento e quatro anos depois, vivemos num mundo radicalmente diferente. Por mais intensas e profundas que tenham sido as transformações, nenhuma foi mais aguda do que aquela que estabelece a forma como nos comunicamos. Hoje, qualquer um pode falar com qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo – ou até fora dele, já que os astronautas também têm acesso à internet – instantaneamente. Mas pessoas continuam ávidas por informação. Nem todas, por jornais.

A razão é simples. Jornal impresso não é mais o único, nem o mais rápido, tampouco o mais completo compêndio de informações. Impossível competir com a internet, que leva a informação instantaneamente. Ou com o Google, onde se encontra tudo sobre tudo. Mas ainda assim, os jornais impressos sobrevivem. Por quê?

Há várias razões. Tem gente que se habitou a receber o jornal em casa e quer continuar assim. Tem pessoas que amam de sentir o papel. Tem os que gostam de fazer as palavras-cruzadas, os que se divertem circulando anúncios classificados com produtos que os interessam, aqueles que recortam colunas de seus articulistas favoritos, os que guardam obituários, os que separam anúncios com produtos que pretendem adquirir. Os jornais impressos resistem porque seguem atraindo... leitores.

Mas a principal razão pela qual os jornais seguem vivos é porque cumprem uma missão tão difícil quanto fundamental: separar o joio do trigo. Nas páginas dos jornais, há uma seleção e hierarquização dos fatos que interessam ao leitor: dos mais para os menos relevantes, com direito a análises e opiniões, distintas e variadas, sobre o que impacta o mundo num instante qualquer. Num mundo infestado de mentiras disfarçadas de informação, de boatos travestidos de verdade, os jornais ainda são um grande e importante filtro.

Obviamente, isso não exclui a necessidade de se adaptar. De ter presença nas plataformas digitais. De manter, no impresso, circulação, número de páginas e oferta de conteúdo adequadas a este novo tempo. Mas os jornais são, ainda, essenciais, como tem sido para Franca e região, há 104 anos, este Comércio. Um jornal que resiste, apesar de tudo, graças ao talento e dedicação de sua equipe. E à paixão e apoio de seus leitores. A todos, meu muito obrigado!

 

Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - junior@gcn.net.br


 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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