Vergonha!

08/06/2019 | Tempo de leitura: 2 min

“Quando eu era criança pequena lá em Barbacena...” o Joselino, completaria com suas histórias inventadas, mas eu, quando era mocinha lá na rua Saldanha Marinho, era obrigada a prestar atenção na ladainha dos meus pais que repetiam à exaustão, a mim e à minha irmã, como deveríamos nos comportar com mocinhos, rapazes e homens. Jamais nos proibiram de conviver com eles, tínhamos mais liberdade que as mocinhas em geral, conversávamos com gregos e troianos. Recebíamos hóspedes em casa, que era aberta a pessoas de todos os níveis sociais. Sem o menor preconceito. No entanto, alertavam-nos. Não dêem moleza. Não acreditem em histórias da carochinha. Não permitam liberdades. Não tolerem intimidades. Lembrem-se, eles são de Marte, vocês de Vênus, completariam, se tivessem a oportunidade de ler o livro... Tomem cuidado com brincadeiras de mão. Vistam-se com decoro. Saiam de perto se a conversa descambar para a pornografia. Não aceitem bala de estranhos. Não aceitem presentes de pessoas que vocês não conhecem. Cuidado com promessas e não acreditem naquelas em troca de benefícios. Não entrem em quarto de hotel sozinhas, nem se o papa convidar.

Minha geração presenciou casos de perda de virgindade, quando isso era um horror; inumeráveis casos de gravidez antes do casamento; traições conjugais dos dois lados, centenas de casos de paternidade desconhecida. Mulheres apanhavam de seus homens não apenas na rua ou na boite, mas na casa ou apartamento vizinhos e nem sempre reclamavam de quem lhes batia. Fui alertada: se seu marido, ou noivo, ou namorado ousar levantar a mão para você, volte para casa e nunca mais olhe na cara dele. Ou você será chamada, por mim, de sem-vergonha, dizia meu pai, na sua delicadeza... E completava: e, se você, depois de apanhar, sair e ainda voltar para ele, não ouse mais bater à minha porta. Daí eu ser cética com relação a histórias de ataques sexuais a moças que abordam e assediam celebridades endinheiradas e, após conversas picantes e cheias de esperanças nada virtuosas por telefone ou ao vivo, recebem e aceitam convites para encontro, passagens de avião em classe executiva, estadias em hotéis de luxo de cidades paradisíacas e a promessa não explícita verbalmente de passeios pelas lojas de grife, de jóias e roupas após a performance entre quatro paredes. Isso quando a sugestão não parte delas mesmas.

Há casos e casos. Há, sim, mulheres que são surpreendidas pela violência doméstica. Há, sim, mulheres que não foram orientadas a não provocar a ira ou o instinto animal que alguns homens não conseguem refrear. Há muitas, que até gostam; há outras que justificam. Há as que aceitam. Há as que mentem sobre o assunto, escondendo, com profunda vergonha o que passam entre quatro paredes. E há aquelas, aquelas... que não se pejam de contar minúcias e segredos de alcova, para tirar proveito financeiro da situação. Filmam e divulgam cenas escabrosas. Tem mulher de todo tipo!

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br  

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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