Verbetes

Homens, unam-se! Estão deixando para trás uma época na qual as mulheres tanto reivindicaram, reclamaram, que chegaram ao seu lado!

01/06/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Homens, unam-se! Estão deixando para trás uma época na qual as mulheres tanto reivindicaram, reclamaram, que chegaram ao seu lado! Sejamos honestos: algumas já até os deixaram na posição de lanternas. Na verdade, evoluíram, perderam o medo, recuperaram espaços, conquistaram outros.

Acredito que não seja possível o retorno à era do matriarcado: modelos que privilegiavam uma figura em detrimento da outra pertencem definitivamente ao passado. Mesmo assim, é preciso determinar com exatidão o âmbito de atuação de uns e outras. Vejamos, será que desejam continuar a abrir portas dos carros para elas? Afastar cadeiras para que elas se acomodem? Levantar-se da mesa quando elas forem retocar a pintura no Lady’s Room do restaurante? Será que elas vão entender, depois do papo cabeça durante a happy hour no barzinho, que é natural que elas entrem no rateio da conta? Melhor ir pensando nestas questiúnculas...

O poder das mulheres surpreende. Para coroar o trabalho de conscientização e luta por direitos, elas, desde os anos 90, conseguiram até mudar o dicionário. Faz tempo, alguém percebeu a diferença entre os verbetes Homem e Mulher exibidos no Aurélio. Homem, pelo menos no livro, era muito maior que Mulher... Centímetros e centímetros de loas e reconhecimento para eles. Mulher, ao contrário, se mostrava reduzida e – acredite – os sinônimos passavam de vinte sub-verbetes , dos quais dezessete eram sinônimos de meretriz. Sobravam apenas três, sem a conotação: mulher de César (mulher de reputação inatacável), mulher do piolho (mulher teimosa) e mulher fatal (que é capaz de provocar tragédias). Pior. Mulher da Rua, Mulher da Vida e Mulher Pública - três dos dezessete - tinham significado depreciativo, o inverso da versão, na referência ao homem.

A nova edição do Aurélio traria, na época, grandes novidades. A perpetuação e a incorporação de neologismos, gírias, termos de outras línguas considerados partes do nosso Português. Mas a grande redenção, o verbete Mulher, que continuou definida como “ser humano do sexo feminino, cuja grande e máxima capacidade é a de conceber, gestar e parir outros seres humanos.” Ela ainda é, pelo menos ali, uma “parcela” da humanidade” e, no Brasil, está em maioria. Tiraram do verbete a peja ideológica e insensata de vinculá-lo a culpa, sexo e negatividade. Agradeço, mesmo achando que a igualdade absoluta é utopia e que os homens detêm o poder. Quer ver?

Não conheço homem que espinafre, por quaisquer motivos, outro homem,mesmo seu desafeto; torcedor de outro time; que tenha muito dinheiro; que seja exibicionista; panaca; babaca e outros adjetivos quetais que eles usam para se descrever. Se ouvem sobre ele, por exemplo, comentários de traição conjugal, mesmo que inimigo, defendem o ausente. Mulher ajuda na espinafração. Me atire a primeira pedra quem achar que não!

(Escrito em 8 de abril de 2002, republicado, com alterações, em 1º de junho de 2019.)

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

  

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