A pulga e o cachorro

Quem conhece de perto ou trabalha diretamente com o prefeito Gilson de Souza (DEM) sabe que a objetividade não é, nem de longe, uma de suas virtudes.

26/05/2019 | Tempo de leitura: 3 min

Quem conhece de perto ou trabalha diretamente com o prefeito Gilson de Souza (DEM) sabe que a objetividade não é, nem de longe, uma de suas virtudes. Gilson simplesmente tem horror de ir direto ao ponto. Qualquer conversa com ele é processo longo, que passa, necessariamente, por intermináveis preliminares. O prefeito faz questão de perguntar como anda a vida do interlocutor, não se cansa até entender todas as relações pessoais e ainda gosta de falar sobre amenidades antes de, propriamente dito, entrar no assunto que justificou o encontro. Quem não está acostumado, se assusta. Quem está, se cansa. Mas não adianta tentar mudar. Ele é assim e não vê nenhum problema nisso.

Quando a reunião é maior e envolve muita gente, a característica, digamos assim, se potencializa. Gilson então acrescenta “causos” às preliminares. A estratégia tem dois objetivos. Uma, garantir descontração, sempre um objetivo do prefeito. A segunda, antecipar um “recado”. Com os “causos”, o prefeito busca pavimentar caminho para a tese que defenderá adiante.

Um de seus ‘casos‘ preferidos é o da pulga e o cachorro. O prefeito gosta de contar, com seu sotaque mineiro típico, carregado de diminutivos e de ‘erres‘ no lugar de ‘esses‘, sobre o sujeito que diante de um cachorro bravo que tem uma pulga, perde mais tempo com o inseto do que com o cão. É o jeito dele dizer que seu interlocutor deve se preocupar com os problemas grandes, não com os pequenos. “Para de oiá a purga. Presta atenção no cachorro‘, gosta de brincar.

Transcorrido mais da metade de seu mandato, passa da hora do prefeito aplicar para si o que recomenda para os outros. Na mesma semana em que teve dificuldades para aprovar um projeto relativamente simples de criação de gratificações para servidores públicos concursados, o que só aconteceu graças ao voto de minerva do presidente da Câmara, Donizete da Farmácia; em que enfrentou severas críticas por conta da morosidade na secretaria de Planejamento, responsável pela aprovação de tudo que é obra no município; e ainda em que enviou para a Câmara o projeto que prevê a renovação do contrato de transporte coletivo por dez anos; Gilson encontrou tempo para vetar um projeto aprovado por unanimidade pelos vereadores e que simplesmente exige que preste conta dos gastos nas viagens que faz. Só isso. Ainda assim, aconselhado sabe-se lá por qual gênio da articulação política, Gilson apontou uma inconsistência jurídica qualquer para vetar o projeto. Perda de tempo. De energia. E de foco.

Certamente, fosse sua vontade, haveria justificativas legais para ampará-lo na decisão de sancionar o projeto. Mas Gilson não quis, preferiu brigar com a Câmara. Olhou, mais uma vez, para a pulga. E deixou, perigosamente, o cachorro de lado.

Ninguém precisa ter dois neurônios para saber que prestar contas de qualquer gasto com dinheiro público é o mínimo que se espera de qualquer um. Afinal, que mal há em dizer quanto e de que forma gastou o dinheiro que usou nas viagens que fez? Além disso, evitar brigas e polêmicas desnecessárias quando se discutem assuntos muito mais complexos é sinal não apenas de inteligência, mas também de maturidade - e, de quebra, de salutar pragmatismo. Como diria qualquer mineirinho lá da Gurita, em Delfinópolis, ‘larga as purga, Girso. Oiá o cachorro‘. Pelo amor de Deus. E de Franca.

Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - jrneves@comerciodafranca.com.br 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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