Preconceito

11/05/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Preconceito é sentimento ruim, nebuloso, vergonhoso. Não, não está em listas de pecados religiosos. Zuenir Ventura diz, magistralmente, que o pior dos pecados capitais é a Inveja porque, se os outros o pecador declara, qualquer um atacado pela urticária da Inveja, não deixa de acrescentar que seu sentimento é “bom”, “é santo”. Dá-lhe cor: “minha inveja é branca, viu?”. Não, não é. Inveja é Inveja e pronto. Completo a afirmação de Zuenir: “o Ódio espuma. A Preguiça se derrama. A Gula engorda. A Avareza acumula. A Luxúria se oferece. O Orgulho brilha. Só a Inveja se esconde.” Porém, mesmo sem registro, ou conotação religiosa, ainda considero o Preconceito, o pior tipo de pecado que o ser humano possa cometer.

Acabo de receber, via internet, post produzido por inglês, prospectando o visual que o filho recém-nascido do Príncipe Harry e da Duquesa de Sussex, Meghan, poderá ter no futuro. É foto real de criança de mais ou menos três anos, de pele escura e cabelos avermelhados, bem enrolados. Moleque bonito, mas diferente dos primos, filhos do Duque e da Duquesa de Cambridge, loiros, cabelos lisos, olhos azuis.

Não sei porquê, minha primeira reação foi rir. Achei graça. Impropriamente. Sou descendente de negros. Prova disso, nos documentos de identidade do avô materno, acima da linha onde se lê cor, está a palavra mulato. Meus tios Claúdio, César, Cença, Ben Hur, Ophélia Junqueira, também tinham pele escura, uns mais claros, outros não, todos igualmente amados e respeitáveis. Tenho primos de pele muito diferente da minha, que só não amo mais, porque discordamos sempre, ao discutirmos política. Cor externa das pessoas nunca foi problema para mim. Mas, confesso, ri do post, como se eu mesma fosse descendente direta de escandinavos. Depois de algum tempo de vergonha pela reação que impediu de me olhar no espelho, voltei a pensar no assunto. Nós, brasileiros, somos preconceituosos e racistas. Vai passar muito tempo ainda, antes de aceitarmos com naturalidade, qualquer tipo de miscigenação racial.

“Narciso acha feio o que não é espelho”. Da mesma forma que não conseguimos ver beleza no índio, no negro, no oriental, não duvido que eles nos olhem e não apreciem nosso visual, também tão diferente. Mas o preconceito contra o negro está nas nossas raízes, na nossa história e, se transparece na nossa postura com relação ao próximo colorido, quando o próximo é negro, chega a ser cruel. Quando nossos negros foram livres para as ruas, naquele 13 de maio, foram despejados como se apenas a liberdade lhes bastasse. Não sabiam ler, escrever, não tinham dinheiro, continuaram a não ser aceitos socialmente. Estavam livres, não auto-suficientes. Ficou o ranço, que só vai passar quando amadurecermos como pessoas e como nação. Não será com proibições ridículas como impedir substantivos, adjetivos ou músicas. Não será prendendo gente porque racismo é condenável e passível de pena. Será com Verbo, mais precisamente com o Verbo Amar: “ame teu próximo, como a ti mesmo”.

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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