Decepção

Aquela vizinhança ficou apavorada com lascas de conversas ouvidas entre gente poderosa que

19/04/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Aquela vizinhança ficou apavorada com lascas de conversas ouvidas entre gente poderosa que intencionava construir prédios altos uns e comerciais outros, no bairro planejado e vendido para ser estritamente residencial, argumento mais forte de venda no qual embarcaram. O vendedor dos lotes, dono do empreendimento, ficou irritadíssimo na ocasião, porque alguns proprietários se posicionaram contra. Não chegaram a perder a amizade, mas os compradores, de certa forma, se sentiram traídos. Antes, pouco depois das vendas e quase imediata construção, a região continuava praticamente deserta. Na planta tinha espaço para o que seria, futuramente, magnífica praça. Ficava algo distante do centro, o asfalto terminava uma quadra depois da primeira construção, depois era só mato, as ruas do entorno nem calçadas tinham. Prova disso é o álbum de fotos que uma das famílias fez durante quatro anos, acompanhando a materialização do sonho da casa sonhada, onde essas peculiaridades estão registradas.

As pessoas foram chegando, as construções subindo, apareceu posto de gasolina em um dos cantos do espaço que seria a praça. O terreno teria sido dado, em comodato por trinta anos, a particular. Vencido o prazo sairia de lá, o prefeito da época explicou. Muito mais que trinta anos se passaram, o posto não saiu. Continua firme, no espaço público, provocando aleijão no projeto que foi feito da praça que se chamaria, inicialmente, Praça Itália. Outra mancada: o prefeito da época encampou a idéia do logradouro, permitiu festa simbólica de inauguração, teve jantar de gala, vieram cantores de ópera para abemolarem a celebração da homenagem em recital realizado no Teatro Municipal. O projeto não saiu do papel porque a praça já tinha dono, fato que o mesmo prefeito esqueceu, apesar de ter sido dele a indicação do primeiro nome a ser homenageado. Nem um, nem outro. O espaço ainda está vazio, com algumas esparsas árvores plantadas nele. Mas a possibilidade de serem plantados no bairro prédios altos, parece que voltou.

Ninguém é contra altura, mas contra a inconveniência de se construir prédio de mais de três andares num bairro exclusivamente de casas. Há que se respeitar o propósito do empreendimento. Quem compra casa em bairro com perfil residencial não quer vizinhos bisbilhotando sua intimidade do alto. No que foi vendido – e comprado - como área restrita a casas, já apareceram prédios não tão altos, mas igualmente invasivos, com vários andares nas ruas laterais. Há residências que perderam a privacidade porque as janelas do prédio – de três andares - com o qual fazem fundo, ficam cheias de bisbilhoteiros. Prédios altos deveriam ficar em área específica da cidade, com ruas mais largas para facilitar o trânsito e com distância decente entre os imóveis.

Não se trata de cercear a liberdade de iniciativa de ninguém, mas de respeito aos desejos anteriores dos moradores, que compraram seus imóveis na certeza de que o faziam em bairro de residências, de aspecto um tanto bucólico, tranqüilo, de poucos vizinhos que se reconheceriam e de trânsito educado.


Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

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