Turista

Viajar de avião exigia das mulheres o uso de luvas, meias de nylon, saltos altos, tailleur de corte impecável e, às vezes chapéu.

13/04/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Viajar de avião exigia das mulheres o uso de luvas, meias de nylon, saltos altos, tailleur de corte impecável e, às vezes chapéu. Homens entravam no aparelho de terno e algum modelo charmoso da Ramenzoni na cabeça. A passagem custava caro, coisa para milionários. Crianças raramente os acompanhavam. O uso deste tipo de transporte exigia o cumprimento de certo protocolo. As pessoas falavam em voz baixa; efusões de alegria ou surpresa eram contidas. Jovens dificilmente eram encontrados nos aéreos. Fumar dentro do aparelho era permitido. A fumaça pairava sobre os passageiros e, às vezes, a nuvem que se formava no teto da aeronave parecia indicar tempestade. No trajeto para a Europa, ou para os Estados Unidos, não raro havia escala, porque o aparelho não tinha autonomia de vôo. Precisava de reabastecimento. Viajar a negócios era mais simples, mas nas férias, ou passeios, a rotina era diferente. Quando em grupo, era preciso levar muita bagagem, porque se trocava de roupa o dia inteiro durante as estadias. Um traje para a manhã, outro para a tarde, mais um para o jantar e, se houvesse possibilidade de esticadinha, o de gala, para a noite. Um exagero. Como as companhias aéreas não cobravam excesso de bagagem, levava-se praticamente o guarda-roupa inteiro.

Esse tempo passou. Foi substituído por outro, menos exigente não apenas quanto aos trajes de viagem. Hoje facilidades e oportunidades são muitas e está, muito mais que antes, ao alcance do bolso de qualquer cidadão realizar o sonho de conhecer Europa, Estados Unidos ou países do Oriente. Basta determinação, economizar e, claro, ter o desejo. Viajar é fácil. O problema é o nível de educação e comportamento de grande parte dos atuais passageiros. Ninguém mais hoje em dia rouba equipamento de sobrevivência, mas a tentativa de burlar a vigilância e furar a fila de entrada nos aviões é freqüente. Há quem use o toalete sem o menor cuidado, respeito ou cerimônia. Se lambuzam o público, imagino como deixaram o privado... Ainda há quem ofenda os comissários de bordo, quem fale alto ou fique com as luzes acesas nos vôos noturnos, sem se incomodar com o companheiro ao lado e benza Deus, a maioria aprendeu a manter silêncio durante o sono coletivo. Infelizmente sempre há algum deselegante passageiro que, aproveitando o suposto anonimato do agrupamento, não vai ao banheiro para se aliviar dos gases que o incomodam e acha natural libertar-se em público mesmo.

Bom mesmo é viajar na classe executiva. Público menor, supostamente mais educado - alguns inconvenientes, independente do tipo do público, se repetem. Antes a classe média podia se dar ao luxo de utilizá-la, mas há algum tempo, tornou-se inviável. Com os benefícios, facilidades, programas de milhagem, a procura aumentou e quando a demanda cresce, o preço das passagens, pelo menos as aéreas, acompanham. De qualquer forma, como viajo como turista, sempre que acontece algum inconveniente, lembro-me da afirmação de Luís Querino da Silva, baseada em sua experiência: “Turista sofre.”. Grande verdade!

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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