Distorções

30/03/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Naqueles anos sessenta e setenta os poucos jornais e revistas em circulação traziam notícias sobre insurreições, revoltas, ataques, ódio, conturbação social, mortes de inocentes, de culpados. Havia determinações governamentais que proibiam agrupamentos públicos, mesmo que fosse para comentar o último filme do cinema francês ou as excentricidades de Juliette Grecco. Ou a música Je t´aime, moi non plus, sussurrada por Birkin e Gainsbourg. Diziam, o casal a gravara na cama, entre sussurros, beijos, rala e rola. Na época, escândalo; hoje qualquer letra de Anitta explicita o que vinha romanticamente velado naquela gravação. Boleros e sambas-canções exaltavam a mulher fatal. Mulher certinha só Amélia, aquela que não tinha a menor vaidade e achava bonito não ter o que comer. Nas escolas, nos púnhamos de pé à entrada dos professores, que não eram tios, e chamados cerimoniosamente pelo nome, antecedido por tratamentos formais. Sabíamos cantar os hinos da pátria; nas famílias já tínhamos gays, respeitados por sua discrição e postura social não por suas excentricidades. Havia muito fingimento social, prevaricação de homens e mulheres, rapazes indecentes e moças estúpidas e bocós. Homens já batiam nas mulheres, mulheres apanhavam caladas. As moças num repente passaram a usar saias muito curtas, pela moda ditada na inalcançável Inglaterra e as avós acreditavam que o mundo estava bagunçado, desorganizado. Uma zona. Padres prometiam santinhos para meninas e meninos, e freiras acobertavam a violência. Quando dizem que o mundo hoje está de pernas para o ar, sinceramente, estranho.

Informações e comunicação – sobre tudo e todos - estão disponíveis ao alcance da mão de qualquer habitante do planeta. Mas o ser humano ficou mais estúpido, mais mesquinho, mais ridículo. E muito mais violento. A internet disponibilizou conhecimento, mas as pessoas continuam acreditando no que querem acreditar. Há quem acredite na inocência do Lula, mesmo com todas as provas de seus descalabros; na inteligência de Dilma, aquela que engasga consigo mesma. Acredita-se em heróis da revolução de 64, que morreram, talvez porque não puderam matar. Sobre aqueles que foram seus alvos, que também morreram ou escaparam, não se fala nada.

Não defendo qualquer tipo de violência, acredito no diálogo e no respeito às idéias. Lendo matéria de exaltação de homens e mulheres – que recebem indenização do governo por “injúrias nos anos de ferro” ouso perguntar: o que faziam nas fileiras comunistas? Não estavam dispostos a matar ou morrer em nome de ideais? Quem participou de atentados, roubos e assaltos, como Dilma, estava lá para enfeitar? Marighella, o mito, roubava e matava com fins políticos: isso não é terrorismo? Os comunistas da época não queriam trocar ditadura capitalista, por outra comunista? Na época houve excessos? Ataques, agressões? Claro que sim. Estávamos em guerra que, sob quaisquer égides, são sempre estúpidas, irracionais e desumanas. Ando por aqui destas distorções históricas.

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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