O que fazer quando não há nada a fazer?

Pouco mais de 48 horas separam dois massacres brutais, acontecidos nesta semana.

17/03/2019 | Tempo de leitura: 3 min

“A porta do tenebroso inferno fica aberta noite e dia”
Virgílio, poeta romano

 

Pouco mais de 48 horas separam dois massacres brutais, acontecidos o primeiro aqui perto, em Suzano, o segundo do outro lado do mundo, em Christchurch, na Nova Zelândia. Ate agora, há 60 mortos e praticamente o mesmo número de feridos.

Ambas as ações guardam grande semelhança entre si: foram protagonizadas por homens; têm forte inspiração em jogos de videogame; seus autores não pretendiam roubar nem conseguir nada e seu único objetivo era matar o maior número de pessoas possível; a motivação, tanto num quase quanto no outro, foi puro ódio; as ações foram planejadas com antecedência, seus autores não tinham a menor preocupação em terminar vivos e sentiam desde muito antes “orgulho” do que pretendiam fazer.

Muito ainda vai se falar e escrever sobre o ataque à escola de Suzano, bem como sobre o massacre nas mesquitas de Christchurch. Psiquiatras, psicólogos, filósofos, antropólogos, religiosos e afins vão certamente se debruçar sobre os fatos e apresentar suas teses para tentar entender, minimamente, o que leva a uma barbárie dessas. É importante que o façam, por mais que o desafio de explicar o que me parece inexplicável seja tão grande neste instante que chego a duvidar que alguma conclusão venha a fazer completo sentido. Para qualquer um.

Para piorar, não consigo pensar em nenhuma medida prática que possa ser adotada para prevenir que atrocidades como essa se repitam, por mais que alguns já tenham apresentado ideias tão absurdas quanto inúteis. Por exemplo, houve quem sugerisse armar os professores. Apareceu especialista sugerindo detectores de metais nas escolas. Pais pediam policiais militares nas unidades de ensino. Entendo o desespero de quem procura uma solução rápida e definitiva, mas nada disso funcionaria. Pelo menos, não nos dois casos que abalaram o mundo. A razão é simples: seus autores não estavam preocupados com a vida de ninguém, nem mesmo com sua própria, e também não queriam nada além de matar. Portanto, eles entraram já atirando. Não há medida de segurança capaz de prevenir isso.

Imagine um PM na porta da escola. Seria mais uma vítima. Estaria morto antes que conseguisse entender o que se passava. Detectores de metais, além de serem facilmente burláveis, ainda são impraticáveis por conta das filas que se formariam. Professores com armas, então, seria um total descalabro. Basta o professor se abaixar um instante para ler um texto, ou virar-se para a lousa, para que seu armamento se torne inútil.

No caso da Nova Zelândia, tanto pior: imagine o disparate de armar religiosos. Padres, pastores, rabinos e imãs conduziriam os cultos com metralhadoras e coletes à prova de balas? Não dá, obviamente. Isso, para dizer o mínimo. Por fim, houve quem sugerisse a proibição dos videogames. Vetaríamos também a internet? É tão inútil quanto tentar tapar o sol com a peneira.

Poucas sensações são tão ruins quanto a de impotência. Quando se sabe o caminho, quando se tem convicção do que fazer diante de um obstáculo, por maior que seja ele, há como enfrentar. Mas diante da estupidez destes massacres, da falta de lógica ou propósito, da ausência de qualquer motivação além do ódio, o que sobra é espanto, estupefação, perplexidade – e desalento. Não sei o que pode ser feito, além de rezar. Ninguém sabe.


Corrêa Neves Júnior, publisher do Comércio e vereador.
email - jrneves@comerciodafranca.com.br
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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