Orgulho

Na mesma palavra de alguma ambiguidade a mistura de coisas opostas, com dois sentimentos tipicamente humanos embutidos e em parte contraditórios.

23/02/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Na mesma palavra de alguma ambiguidade a mistura de coisas opostas, com dois sentimentos tipicamente humanos embutidos e em parte contraditórios. De um lado, “o sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”. De outro, “sentimento egoísta, admiração pelo próprio mérito, excesso de amor próprio, arrogância, soberba”. Na primeira acepção, o sentimento considerado socialmente aceitável, estimulador de grandes façanhas, emulador de grandes feitos, absolutamente confessável, embora em excesso possa parecer camuflagem para certo cabotinismo. Na segunda acepção, particularmente me parece mais ter o significado bíblico, um dos instigantes sete pecados capitais, inspiração do poeta desprezado pela dondoca, naquele baile realizado em priscas eras, a considerá-la “tola, vaidosa, atrevida, soberba, inculta e banal” !...

Se você é oriundo de família honesta, tem origem, nome e sobrenome declaráveis, endereço, telefone, ficha corrida limpa, votou nas últimas eleições e acredita na força e no poder da honestidade e da lisura, você é pessoa que pode confessar-se orgulhosa e, nesse caso, seu Orgulho tem fundamento, é declarável, pode levá-lo a realizar grandes feitos. De outro lado, se você se acha “a alma mais honesta deste país” e tem a coragem de declarar isso aos sete ventos, (embora os fatos neguem essa possibilidade), sua verdadeira personalidade é anônima, você vive oculato atrás de falsa identidade, provavelmente você é arrogante, mentiroso, soberbo, acha-se melhor que todo mundo. Pode crer, você é a personificação do outro sentido da palavra orgulho. O adjetivo para você é cabotino. E seu nome, bem, outra hora falamos nisso.

Estava pensando nisso agorinha, porque dia 21 de Fevereiro é feriado nacional em casa. É dia do Imigrante Italiano no Brasil. Hoje é dia de louvação a todos os Maníglia, Sansoni e Gaspardi, nossos particulares ancestrais. A gente acorda ouvindo o trágico, dramático e operístico Fratelli di Italia, o hino oficial; emenda no café da manhã com Va, Pensiero, do querido e idolatrado Verdi; ali pelo meia dia escutamos La vita è bella, de Nicola Piovani.. Fiel ao “dopo Il pranzo, ora di riposare”, programei Amore, cantada por Dean Martin, que não era propriamente italiano, mas amigo da Cosa Nostra; Tu sei cosi, Piove e Volare, cantadas por Fred Bongusto, mas Piove será cantanda pelo Il Volo. Hora de trabalhar, chamarei Lucio Dalla: Caruso, Zingaro, Com’è Profondo Il Mare. E, para esperar o café, Caro Amico, ti scrivo. Nesse momento Pavarotti entra só para mostrar que Gesù Bambino, não é do Chico, mas de Lucio Dalla. Tarde da tarde, hora de escutar o Intermezzo da Cavalleria Rusticana, de Pietro Mascagni, na versão de Kum Cul Deok, no Teatro Antico, de Taormina. Depois Mamma, Core’ngrato, La luna che non c’è. Noite a chegar, rodo o CD Festival di San Remo, álbum do Il Volo. Tomo a bênção do Nonno Nicola, da Nonna Lila, da Zia Maria e durmo em paz, peito carregado de orgulho. Texto medíocre, seleção musical, espetacular...


Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

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