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Uma hora, a dor passa. Na infância, escorregões, quedas, quaisquer descuidos provocam esfoladuras, cortes, arranhões, galos.

02/02/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Uma hora, a dor passa. Na infância, escorregões, quedas, quaisquer descuidos provocam esfoladuras, cortes, arranhões, galos. Todavia, o beijo da mãe, o medo do merthiolate, o esparadrapo com figurinha infantil com qualquer super herói ou a bandagem têm poderes mágicos. Separados, já produzem efeito, tudo junto e misturado alcança poderes cicatrizantes, analgésicos e anti-inflamatórios. A gente cai, se arrebenta todo, mas com tantos mimos, uma hora a dor passa.

Uma hora a dor passa. Todos já ouvimos isso na puberdade e muito mais na adolescência. Fosse ao sentir na carne o desprezo do amor da nossa vida, de seu abandono ou em caso de sua indiferença. Igualmente, era olhar no espelho e não gostar da imagem refletida, batia forte a sensação de inferioridade e, convenhamos, nesta fase tal péssimo sentimento começa no momento exato da nossa auto-avaliação. E nunca estamos satisfeitos com nossa aparência nesta terrível fase da vida. No entretanto, a dor dessas revelações e experiências, uma hora passa. Nessa particular fase, algum elogio, frase, até mesmo algum sonho, conquista, vitória, presentes possuem o poder mágico de reverter qualquer situação desagradável e nos devolver a sensação de que somos o máximo, todo mundo nos ama e aprova, nossa vida é maravilhosa. E a felicidade volta a se instalar dentro dos nossos corações. Quer seja na puberdade, quer seja na adolescência, uma hora, por algum motivo, pequeno gatilho, o mais insuspeito possível, libera alguma serotonina, a dor passa, e a gente volta a ser feliz.

E então chega a fase adulta, mas nem tanto. Época de estudar, de descobrir pendores, decidir o futuro, amar desesperadamente, escolher parceiros, constituir família. Somente tragédias podem ofuscar esse começo de vida adulta. Os ganhos parecem cascata de benesses divinas: corpo e mente em perfeita harmonia, nos colocam no alto de olimpos individuais, e nos cremos absolutamente poderosos. Deuses. Dores são relativas e dizem mais àquilo que ainda não conseguimos, que ao que não temos. Ou perdemos. Nada nos atinge. Então, para a maioria chega o tempo de duras perdas que sucedem esse fantástico apogeu. Perdemos liberdade, beleza, perfeição física, entes queridos e, algumas vezes, muito do que acumulamos. Perigos e frustrações nos rondam. Vislumbramos boas e más possibilidades e precisamos ser muito fortes porque, se a dor em alguns casos passa, em outros ela jamais passará: perda dos entes queridos, que nos antecederam; o sofrimento no qual muitos se encontram, sem possibilidade de analgésicos; o lamento pela perda do cavalo encilhado, que nunca mais voltará. Ainda assim, uma hora a dor passa.

Desconheço, porém, o que possa amenizar a dor ou acalmar o coração dos amigos ou dos familiares de luto pela tragédia ocorrida em Minas Gerais. Tem hora que a dor é tão grande, mas tão grande, que ela não passa. Só podemos rezar por elas.

Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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