Fernanda Meister, 38 anos, é uma paulistana que mantêm fortes laços afetivos com Franca, onde sua avó morou e que é lar de muitos primos. Desde a infância, acostumou-se a passar férias na cidade. Advogada e gastrônoma, caiu na estrada e após percorrer boa parte do sudeste asiático e da Europa, mudou-se para Galápagos. Na isolada ilha onde Charles Darwin encontrou os elementos para desenvolver a Teoria da Evolução das Espécies, Fernanda desenvolveu um projeto que une Direito, meio ambiente e gastronomia.
Você fez Direito e foi para a Itália fazer mestrado. Como foi parar em Galápagos?
Eu amo livros de receitas, mas na prática uso de inspiração e raramente sigo à risca. Em 2013 fiz o Caminho de Santiago de Compostela, logo após terminar a especialização em Contratos. Durante o Caminho, concluí que queria trabalhar com comida, mas que não queria ser chef. Em 2015, comecei um relacionamento com um fotógrafo. Caímos no mundo: Tailândia, Camboja, Hong Kong, Macau, Itália, Espanha, França, Malásia, Filipinas e Bali. Mas, nessa bagagem toda, o impacto ambiental causado pela indústria do turismo me chocou. Busquei um curso que se propusesse a estudar a comida por uma vertente holística. Encontrei o mestrado na Università di Scienze Gastronomiche di Pollenzo, onde tive a oportunidade de estudar comida como queria: aspectos antropológicos, políticos, jurídicos, econômicos, ambientais, históricos, logística. Uma das professoras me incentivou a apresentar um projeto para pesquisa em Galápagos. Preparei um projeto para utilização das hortas como instrumento de educação ambiental e alimentar, que foi selecionado.
O que conclui de sua pesquisa para o mestrado?
Galápagos tem o índice mais alto de obesidade do país e o Equador está, ao lado de México e Chile, dentre os países com maior índice de má nutrição da América Latina. Em Galápagos, este problema está diretamente relacionado ao alto custo do alimento fresco e a baixa qualidade nutricional dos produtos industrializados, que são os economicamente mais acessíveis. Comer em Galápagos é muito caro, mas a economia local não se beneficia pois praticamente tudo é importado. Ou seja, o lucro que teriam com a gastronomia local escoa para o continente.
Galápagos fica no Oceano Pacifico, a mil quilômetros da costa do Equador. Como é viver num lugar tão remoto?
Lá você se dá conta de que tudo o que há de verdade é a natureza, a ciência tentando compreendê-la, controlá-la e por vezes superá-la. Todo o resto é socialmente construído. Lá me dei conta de quantas distrações temos e de como desperdiçamos tempo em coisas inúteis e desnecessárias. Muitas vezes essas distrações se tornam fugas de nós mesmos e dos nossos próprios monstros, que não queremos enfrentar.
O que se come em Galápagos? E o que dá para fazer para se divertir?
A gramática básica da alimentação ali é uma sopa e um fuerte, que seria um prato principal composto de uma saladinha, com arroz e uma menestra, que seria o feijão, o grão de bico, a lentilha cozidos e uma proteína animal (peixe, frango, carne). Come-se também ceviche. Meu petisco favorito era a empanada de mariscos. Para se divertir, há alguns bares na cidade. Mas o que vale a pena mesmo é acordar cedo, conferir a tábua das marés, pegar as aletas, máscara e snorkel e cair na água. A quantidade de vida marinha que você tem a seus pés é incrível.
Você conta que, no isolamento da ilha, os problemas do mundo parecem que não existem. Como é isso?
É uma sensação muito louca. Você vive em um território limitado, com uma população diminuta, sem jornal, com internet de satélite, que funciona quando quer. Chega um ponto em que você se conecta de tal maneira com a natureza que ler discursos de ódio, disputa por territórios e poder no mundo parecem ficção científica.
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