Alunos

Tenho impressão que meus professores viveram a situação. Embora tenha deixado a profissão há tempo, volta e meia pingam na minha memória rostos,

12/01/2019 | Tempo de leitura: 2 min

Tenho impressão que meus professores viveram a situação. Embora tenha deixado a profissão há tempo, volta e meia pingam na minha memória rostos, vozes; reconheço traços fisionômicos, ou certo tom de voz. Tal sensação de déjà vu provoca-me lembranças que, embora saiba que possam ser ilusões, me fazem acreditar estar revivendo alguma situação do passado - recente, distante no tempo ou até mesmo de alguma outra encarnação...

Comecei cedo na profissão de ensinar. Terminara o Magistério, fui aceita no Grupo Barão como substituta efetiva. Ia todas as manhãs para lá, na esperança de assumir a classe do professor que tivesse faltado. Ou ajudar no acompanhamento de alunos com maior ou menor dificuldade – se eram bons, precisam de mais atividade e nós apascentávamos a criança. Ao contrário, nossa tarefa era ajudar o aluno a aprender. Aulas de segunda a sábado, das sete às doze da manhã. À tarde ia para a faculdade. Mas se ensinei alguma coisa, muito mais aprendi com os professores titulares, com os alunos, com os pais de alunos. Ficaram na memória situações hilariantes, algumas, como a de quando o Posto de Saúde pediu amostra de fezes para exames de laboratório e prospectar verminoses nos alunos. Expliquei-lhes que os bichos podiam atingir comprimento absurdamente grande e os olhos do Fábio – não esqueci seu nome – se estatelaram. No dia seguinte, apareceu com lata de cera Parquetina e me entregou. Perguntei-lhe onde estava a reluzente latinha do dia anterior, ele botou a latona na minha frente e disse: “Ó professora! Se eu tiver um bichão daqueles na minha barriga, ele não cabe na latinha, não. Trouxe ele inteirinho!” Depois trabalhei com o “ginásio”. Passei pela Escola Industrial, Coleginho, Colégio de Lourdes e, mais tarde, pelo Cede e IETC, escolas de segundo grau. Arrebanhei nesses estabelecimentos pessoas que ainda reconheço, que estão na minha vida, além de outras, que mudaram fisicamente com o tempo, que não acompanhei, mas que têm seus nomes e fisionomias registradas na memória, lá, no espaço amoroso, onde ainda são crianças, adolescentes ou jovens. Sempre odiei o tratamento de tia ou tio, que alguém iluminado sugeriu ser mais carinhoso e afetivo. Professor é professor, tia ou tio são irmãos do pai ou da mãe e fim de papo. Um é educador, auxiliar dos pais; o outro é puro lazer, não tem compromisso com a educação da criança. Deu no que deu, por falar nisso.

Às vezes me abordam e levo susto. Honra-me a lembrança e, embora de início não reconheça, converso, a pessoa se identifica, lembra-me algum fato ou situação, e as memórias brotam lá do fundo do coração... Quando isso acontece, penso olhar o ex-aluno com o mesmo olhar carinhoso com que meus professores me olhavam e, embora não me peçam, sempre me despeço dizendo baixinho: “Muito obrigada, Deus te abençoe...”  

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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