Descalabros

22/12/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Pode parecer gabolice. Achei que tivesse visto quase tudo na vida. Pai bater em filha; esposa no marido; filhos surrarem pais; tios abusarem de sobrinhos; compadres cantarem comadres; comadres paquerarem compadres. Registro na memória fratricídios, uxoricídios e homicídios. Sei de mulheres que se prostituíram por perfume e homens que venderam o corpo em troca de casamento vantajoso. Já me ofereceram dinheiro para aprovar aluna prestes a ser reprovada. Já vi fumante dar, literalmente, nó em fumaça na baforada do cigarro. Já vi, metaforicamente, o circo pegar fogo. Chutarem o pau da barraca, também...

Pode parecer mentira. Mas já fui agredida de quase toda forma possível. Já apanhei e já bati na rua. Houve quem tentasse manchar-me a reputação, acusando-me de feitos jamais praticados. Já me debulhei chorando por leite derramado. Já fui pega em situação difícil de explicar, por exemplo, afirmando ser a “irmã da mulher” do meu marido e não ela mesma, valendo-me de alguma semelhança entre nós, na madrugada de farra no barzinho, cujos vizinhos reclamaram à Polícia da algazarra que minha turma fazia, embora só tivéssemos dois violões, nossas vozes, mesas para o batuque e nenhum reco-reco.

Pode exagerado. Mas contabilizo inúmeros constrangimentos. Já tomei pito publicamente. Há décadas, nos volteios de rodante valsa, a anágua desabotoou na cintura e me caiu pelas pernas, fazendo-me tropeçar e quase cair no meio do salão. Já levei tombo em frente ao bar da moda, cheio de freqüentadores, minhas paqueras. Idem, quando estava acompanhada pelo moço por quem estava caída, que me convidara ao cinema. Já paguei mico cumprimentando com efusão completo desconhecido... Julguei ter visto quase todas as escabrosidades da vida.

Ledo engano. Situações piores nunca imaginadas; mentiras e exageros ainda seriam muitos, ainda. Nós, que pagamos impostos, trabalhamos, cumprimos deveres cívicos, temos presenciado situações constrangedoras, agressivas e inéditas protagonizadas, algumas delas, quem diria, pelo Supremo Tribunal Federal, definido “a mais alta instância do poder judiciário brasileiro”, cujos ministros, escolhidos pelos Presidentes da República, nem sempre o são pelo critério da competência ou conhecimento jurídico. Ontem os limites da decência foram ultrapassados e chacoalhou o Brasil com decisão orquestrada e planejada, “imbecil e indefensável” que, aplicada, livraria 170 mil bandidos presos em segunda instância: Lula, estupradores, assassinos, ladrões e ladrões de colarinho branco, presos da lava a jato. Ontem o brasileiro se sentiu impotente e humilhado, mas nunca antes havia se sentido tão dono de sua história, a ponto de se rebelar e derrubar essa estultice do imbecil Marco Aurélio.  

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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