Preparativos

Parece que foi ontem, preparávamos o Natal 2017. Montagem da árvore, decoração da casa, enfeites na porta, presentes para as crianças, para os amigos, cartões e mensagens para os

09/11/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Parece que foi ontem, preparávamos o Natal 2017. Montagem da árvore, decoração da casa, enfeites na porta, presentes para as crianças, para os amigos, cartões e mensagens para os amigos, prêmios para os funcionários, limpeza interna e decisões sobre o que levar adiante, o que deixar para trás, o que descartar e o que botar no lixo, tampar e fingir que não aconteceu. Eu fazia lista de intenções para serem cumpridas, até o dia em que percebi que tinha mais interesse em elaborá-las que propriamente cumpri-las. Lendo as últimas listas dos últimos anos por exemplo, nos primeiros meses, fiquei orgulhosa. Fui relaxando, arranjando desculpas, me perdoando e quando dei por mim, já estava sob as mangueiras, me abanando com leque, ouvindo música, sonhando em ser alguma fada com poderes ilimitados e cumpridos ao menor sinal. Não cumpri nem vinte por cento do total dos intentos, ou dez por cento de cada um deles.

Não estabeleci rotina de ginástica, que considerava prioridade. Continuei acreditando-me capaz de mudar o mundo e as pessoas. Não fiz poupança, mas também não gastei mais do que meu orçamento permitiu. Mudei radicalmente o corte de cabelo. Continuei a dar palpites sobre todos os assuntos, sem que os tivessem me pedido. Votei no Bolssonaro, declarei minha escolha , arranjei um monte de inimigos e muita gente parou de falar comigo. Parei de bordar porque tive problemas com o Túnel do Carpo em ambas as mãos. O colete de tricô do meu caçula, que comecei a fazer quando ele tinha cinco anos, continua me olhando de dentro da caixa, já faz trinta anos, acho que no fundo, no fundo, eu o considero um fetiche. E acho que não cabe mais nele, não. Não aprendi a perdoar. Não interrompi o hábito de criticar pessoas e hábitos de muitas pessoas. Não parei de me prometer coisas. Continuo teimosa e inflexível, embora saiba que o azar é só meu.

Esta semana estou me adiantando ao tempo e acho que me abrindo para novos tempos. Já desci caixas e pacotes com as coisas de Natal, porque levei baita susto ao perceber a proximidade deste próximo final de ano. Terei dois filhos perto de mim, dois filhos que não conseguirão vir. Por menos que goste, são contingências das vidas que escolheram, eles são adultos, têm liberdade de escolha e devem seguir suas vidas da melhor maneira que puderem. Custou, mas aceitei melhor suas ausências na mesa do Natal. Acho que, neste aspecto, obtive algum progresso. Outra coisa da qual me orgulhei, pedi ajuda. Reconheci que já não desfruto da antiga destreza de subir e descer a escada de metal para formatar a árvore, pendurar os enfeites e luzes, muito menos para o malabarismo de colocar o Anjo no topo do arranjo. Engoli meu orgulho e vaidade, aceitei minha limitação e aceitei auxílio. Doeu, mas não me matou. Começo a crer que este próximo Natal será o da minha maturidade, quando me preocuparei mais com meu próximo, que comigo mesma. Vamos ver.


Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br 

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