Tambéns

Também já fui de esquerda. Também pensei em reformar o mundo. Também acreditava que todo mundo estava errado,

28/09/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Também já fui de esquerda. Também pensei em reformar o mundo. Também acreditava que todo mundo estava errado, só eu não. Também pensei em dividir todas as riquezas; achava que às pessoas faltavam oportunidades; queria dividir propriedades. Tive a maior simpatia pela esquerda, acreditei em discurso de justiça social. Via reforma agrária como oportunidade para todos terem sua terra, plantar e colher. Era muito mais de dividir, que de somar e até multiplicar, sem perceber que assim só conseguia diminuir. Diminuir a auto-estima das pessoas, diminuir suas capacidades individuais subtraindo delas a garra e o esforço para subir na vida, tal qual meus pais fizeram no início de suas vidas, com a esperança de ver filhos graduados, ter casa própria e carro na garagem, mesa farta. Esqueci o exemplo doméstico de trabalho, de persistência, de tenacidade e parti para repartir, até o que não era meu. 
 
Anos 60. Do meio para o final sucederam-se acontecimentos políticos que transformaram o Brasil. Mortes, destruição, terror, guerra e eu, embora já quieta no meu canto e questionando os fatos, também caí na malha dos acusados de rebelião. Fui constrangida, humilhada socialmente e a coisa só não ficou pior porque fui defendida por ex-professores que me acolheram porque simpatizavam comigo, acho até que me conheciam melhor que eu mesma e sabiam que meu discurso de rebelião não incluía mortes, agressões, chantagens e muito menos vantagens pessoais. Meu saudoso professor de Matemática dizia que eu precisava ler a Bíblia e não Marx, para aprender sobre amor ao próximo. Estava coberto de razão, descobri muitos anos mais tarde, ao perceber que não há como queimar etapas no amadurecimento humano. Que é preciso plantar, para colher. Que é preciso trabalhar, para ter. Que oportunidades não caem do céu, mas são frutos de perseverança, coragem e empenho. Venho da mistura de negros e italianos. Daí, nunca foi problema dividir espaço e história familiar com descendentes miscigenados. Identicamente, convivi, na família, com a diversidade sexual. Parentes muito próximos apresentavam comportamento que a sociedade considerava indesejada. Aprendemos a aceitá-los, freqüentavam as reuniões familiares. Nunca requeri cota social para estudar, estudei em escolas públicas, fui amiga do rei e também do bandido. 
 
Sinto-me à beira de profundo abismo. Com o pé no vácuo, devo pular sem saber exatamente o que me espera. Posso cair em terra fértil que para produzir levará algum tempo, visto que está espoliada, queimada, quase destruída. Ou posso cair na seara da intolerância, da agressividade e dos ataques pessoais. O grau de provocação para o confronto é perceptível até nas redes sociais. No Facebook, exemplo, os contatos não são anônimos, embora alguns sejam desconhecidos. Quando, na opinião alheia, acerto no teor dos posts cobrem-me de elogios. Quando erro, atacam-me pessoalmente e não no nível das idéias. É assustador, além de constrangedor. De qualquer forma, já fiz minha escolha. Meu candidato eleito, cobrarei dele suas promessas de cumprir a lei e promover o desenvolvimento do país. Se perder... Nem quero pensar nisso. 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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