Incêndios

O incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, tem deflagração desconhecida, estopim

07/09/2018 | Tempo de leitura: 3 min

O incêndio que destruiu o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, tem deflagração desconhecida, estopim não apenas presumível, mas óbvio e identificável.  Difícil ainda contabilizar o que sobrou de seu acervo. Mais de 20 milhões de itens foram destruídos. Fósseis, múmias, registros históricos e obras de arte viraram cinzas. Luzia, a primeira mulher brasileira, o fóssil humano mais antigo encontrado nas Américas com aproximadamente 11 mil e 500 anos de idade, está entre os itens provavelmente perdidos. A instituição tem 200 anos de história, foi residência de um rei e de dois imperadores do Brasil. Muitos brasileiros se sentem devastados, como quando do incêndio do Museu da Língua Portuguesa, há três anos. Contudo, daqui três dias a comoção terá passado, afirmou A. C. Sartini, diretor do MLP, que garantiu ter revivido os momentos mais tristes de sua vida  ao ver as chamas consumirem o museu carioca. 
 
Da minha rápida e distante no tempo passagem pela Coordenaria de Cultura de Franca, vinculado à Secretaria de Educação do Município, carrego comigo a lembrança do Museu da Imagem e do Som, que desapareceu; do Teatro Municipal, cujo funcionamento interditei até que a fiação sobre o forro da platéia fosse reparada e não oferecesse qualquer risco para o público. Tinha fios condutores de eletricidade emendados com durex, esparadrapo, muitos outros desencapados. Pequena faísca e aconteceria tragédia de proporções inimagináveis. Outra triste lembrança é a do Museu de Franca. Recentemente, em busca de informações, o atendimento foi excelente, e a localização dos documentos, feita por funcionários eficientes e competentes, foi manual porém rápida. Mas a estrutura, totalmente sem manutenção. Goteiras, rombos nas paredes e telhado, nem quero pensar no estado da fiação sobre o teto. O acervo não exposto estava guardado com boa vontade e muito improviso.  Falta manutenção dos armários, na própria estrutura do prédio, pintura nas paredes, reforma dos banheiros. A administração, pela qual respondia a competente e idealista Margarida Pansani, sempre esteve muito acima da expectativa, haja vista a escassez da receita destinada à manutenção do local, pelo menos nas duas eras citadas, ambas comandadas por ela. Hoje não sei como se encontra. Mas posso imaginar. Não menosprezo acervos dos museus brasileiros, não supervalorizo os estrangeiros. Admiro o cuidado que as autoridades têm com seus tesouros, e o respeito dos cidadãos por eles. “Olhe esses documentos com respeito e devoção. Aqui é um templo, e vê-los é privilégio.”, disse baixinho o adulto à criança que o acompanhava na visita ao Arquivo Nacional, de Washington. Que inveja! 
 
Nenhum dinheiro recuperará nosso tesouro queimado. Nem se somarmos o que se roubou do Brasil nos últimos anos, mais o valor desviado das instituições, mais propinas pagas aos políticos, mais o indecoroso fundo partidário, mais o dinheiro do BNDES enfiado nas entranhas das monumentais obras petistas no estrangeiro ou nas das suas empresas amigas brasileiras, mais o que a Lei Rouanet pagou em shows, exposições e edições de livros milionárias dos amigos dos governos petistas.  Nem assim. O que a cultura brasileira perdeu nesse incêndio, não tem reembolso.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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