Agressões

Não acredito no aqui se faz, aqui se paga. Não acredito na súbita ou rápida regeneração humana.

17/08/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Não acredito no aqui se faz, aqui se paga. Não acredito na súbita ou rápida regeneração humana. Não acredito que alguém possa se tornar manso, bom, pacífico ou aprender a perdoar ofensas num piscar de olhos. Acredito no trabalho que dura tempo e exige força, resiliência, desejo de mudança, coragem e sobretudo temperança, para a transformação interna de qualquer agressor. Ou para a vítima de agressão querer, realmente, sair da relação conturbada ou doentia. Tenho casos para ilustrar esses posicionamentos. Os nomes são falsos, claro, mas as histórias de terror são reais. 
 
Mariana conta que o pai bebia sempre e, ao chegar em casa manguaçado, explodia por qualquer motivo. Porque não tinha gostado do cheiro da comida; porque a mulher o olhara de forma estranha; porque sim; porque não. E batia na mãe, nas filhas e nos filhos. A prática atravessou décadas, até Mariana se cansar de apanhar e ver a mãe e irmãos estupidamente agredidos, cheios de marcas. Decidida e impetuosa, como somente adolescentes podem ser, foi à delegacia e deu queixa do pai. Prenderam-no, a mãe se desesperou. Contratou advogado e cobriu o marido de elogios para as autoridades. Sim, ele explodia, mas nunca deixou faltar nada em casa; na sobriedade era carinhoso com ela; e depois, ninguém tem nada com o que acontece com casais entre quatro paredes. Mariana voltou para casa apanhando da mãe, mas revidou à altura, quando o pai tentou agredi-la e aos irmãos. Ela e os irmãos, não mais; a mãe continuou apanhando e a família respeitou sua opção. A mãe se desesperou na morte do pai porque, acredite se quiser, ela era apaixonada por ele. 
 
Cleide e família moravam em prédio de apartamentos quase vazio. Jovem casal mudou-se para lá. Ela ficava em casa o dia todo, trancada. Ele chegava, logo começavam os gritos. Mesmo indignada, a família evitou se envolver. Porém, ao ouvir o Socorro! da moça, o pai de Cleide atendeu. Apertou a campainha. O rapaz abriu a porta, o pai perguntou se podia ajudar. A moça, lanhada, descabelada, cheia de marcas, passou por baixo do braço do marido e agrediu seu defensor anônimo. Que fosse embora, não era bem-vindo. Antes de atendê-la, disse que ela apanhasse calada, do contrário ele ia surrar marido e mulher. O casal se mudou na mesma semana. Seja quem for o agressor e não importa a maneira pela qual é feita, agredir mulher, criança ou homem é covardia. Não importa o motivo, agredir é covardia. 
 
Incoerências? No filme Atração Fatal, as personagens de Michael Douglas e Glenn Close se envolvem em tórrido caso, que era para acabar no primeiro capítulo. Rejeitada, ela surta e passa a perseguir, ameaçar e comprometer a integridade física da esposa e filhos pequenos dele. Tento entender porque fiquei tão empolgada com a surra que ele dá nela. Não estou imune às provocações do Lindbergh Farias, Gleisi Hoffmann, Boulos, Stédile ou do presidiário Lula. Na oportunidade de voar na jugular de cada um, e acabar com eles, seria acusada de agressão?

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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