Considerações

Qual a origem das nossas simpatias e antipatias por pessoas e coisas encontradas pela vida afora?

27/07/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Qual a origem das nossas simpatias e antipatias por pessoas e coisas encontradas pela vida afora? Por que a presença ou encontro com algumas delas nos alegram ou alegraram, e outras nos causam ou causaram repulsa? Quais critérios usados para eleger preferências e rejeições, entre os milhões de seres atuais ou passados, entre as coisas desse mundo, com as quais tivemos contato em todos os lugares e locais por onde passamos? 
 
Subitamente consigo apontar, entre todos e tudo, quais são meus pares, ou ímpares, e não ignoro que boas impressões de primeira vista podem dar origem a profundas desilusões posteriores ou, pelo contrário, mal estar ou rejeição iniciais mais à frente se transformam em sentimentos opostos. Tudo soe acontecer com sentimentos humanos. Verdades: eleições empíricas costumam não falhar, e pelas escolhas ou eleições feitas, se pode adivinhar a nossa própria personalidade. A expressão antiga “Gambá cheira gambá” explica o mecanismo, fenômeno que os franceses, com mais classe, muito mais classe, explicam com a frase “Qui se ressemble, s’assemble” – livremente traduzido por “quem se assemelha, se encontra”. Variações do tema: “Diga-me com quem andas, eu te direi quem és.” Ou simplesmente, “lé com lé, cré com cré”, que eu particularmente adoro. Fenômeno surreal. Mesmo sem palavras ou possibilidade de comunicação verbal, apenas num olhar acontece a descoberta dessa semelhança interior que nos cola agradavelmente a alguns desconhecidos e anônimos passantes, ou que nos faz rejeitar visceralmente alguns outros. Explicar semelhanças, é simples. Explicar rejeições, ligeiramente mais complexo. 
 
Sempre afirmei que os vís, abjetos e desprezíveis sujeitos e sujeitas que não mereciam meu apreço, consideração ou carinho eram absolutamente diferentes de mim, razão para rejeitá-los visceralmente. Após muita terapia, discussões, nãos e necas e nuncas, cedi. Consegui enxergar e admitir que o meu ódio por elas nascia a partir, não da diferença, mas da percepção e da certeza com relação à semelhança daqueles seres comigo. Eu não gostava deles, mesmo sem razão aparente, porque eles demonstravam possuir traços de personalidade que eu detestava em mim. Pior ainda. Que também para odiar cada uma delas, eu usava sentimentos mesquinhos, terríveis, doentios, e absolutamente humanos, quais sejam inveja e despeito. Concluí que o Desprezo é filho do Espelho e da Inveja. 
 
Se admitir tais verdades me levou à possibilidade de razoável auto conhecimento, igualmente me deu ferramentas para entender ódios e avaliações depreciativas das quais sou alvo, fui, serei e tanta gente igualmente é. De posse de tais conhecimentos, talvez tenha me tornado pessoa melhor, mais humana, menos rebelde e agressiva. Talvez guarde menos ressentimentos e as resoluções da minha vida quiçá atendam a princípios mais altos e dignos que antes. Acho que fiquei mais triste e agora, ao analisar os motivos de algum eventual ódio, fico com vergonha. Ao ser agredida, opto por fingir não perceber para evitar constrangimento dos agressores que, ou são muito parecidos comigo nos meus defeitos ou têm uma baita inveja daquilo que (acham) que sou...
 
(Releitura de texto produzido em 11 de junho de 2000)
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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