Despencou

Dizem, meu pai teria sido um bom jogador de futebol, caso tivesse persistido no objetivo da época

22/06/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Dizem, meu pai teria sido um bom jogador de futebol, caso tivesse persistido no objetivo da época. Era determinado, destemido, perspicaz e de boa compleição física. Dois fatores atrapalharam. Um, a profissão não era vista com bons olhos pelas famílias das boas moças de então e outro, não dava dinheiro. O sujeito que pretendesse fazer a vida jogando futebol estava mais ou menos fadado sim, a ter  alguma fama, mas apresentar conta bancária modesta, a não ser que fosse um profissional excepcionalmente talentoso. Dentre as histórias que compuseram a trilha cultural e emocional da minha vida, tem destaque fabuloso a da moça que fugiu para casar, cheia de componentes românticos.  Ela, muito bonita, rica, família tradicional, educada no melhor colégio da região, maneiras finas, e ele como se dizia na época, pedaço de mau caminho, cheio de defeitos morais, sem qualquer maneira à mesa, não sabia usar talheres e com um único atributo. Era excelente jogador de futebol. Lembro-me de conversas meia boca de mamãe com a irmã da Julieta – o caso rendeu fofocas pra mais de ano nas rodinhas francanas. Particularmente guardei uma das falas da protagonista, possivelmente tirada de algum samba-canção, trilha sonora da época. Perguntada onde eles iriam morar, caso insistissem no amor impossível, ela teria respondido que o amava tanto, que iria morar com ele embaixo da ponte. Seria cômico, se não fosse trágico. Voltando à minha história, mamãe bateu o pé, fez meu pai estudar, ele abandonou a carreira esportiva e a vida deles tomou outro rumo. A amiga de minha mãe? Houve o casamento, não durou muito porque a incompatibilidade era grande, ela teve filhos, foi acolhida pela família de origem. Ele sumiu. 
 
Acompanhei através de revistas e jornais a vida de Pelé, Ademir da Guia, Garrincha e, mais tarde, as de Falcão, Cacá, Ronaldo, Ronaldinho, Romário.  Recentemente, com o advento da internet e o interesse do neto que se mostra talentoso no esporte como o bisavô,  nomes como Beckham e Cristiano Ronaldo se juntaram aos outros. Colocando todos eles na mesa, independente dos anos em que se destacaram e analisando com um olho só, vem à memória a análise de  amigo homossexual já falecido, cuja preferência por tais esportistas ele justificava dizendo que “tinham sempre a mesa posta”. Pelo visto, não exagerava e futebol, não é só bola na rede.
 
Cristiano Ronaldo é o ídolo da vez.  Sério, contradiz toda a literatura sobre comportamento de jogadores de futebol, tem postura, nunca se meteu numa confusão envolvendo mulheres, é ídolo das crianças, dizem que responde pessoalmente as cartas que recebe dos fãs, é caridoso, delicado com todos. Já estou achando que CR7 é até mais bonito que Beckham e, quando ele está em campo, me lembra o Barishnikov dançando. Protagonista de lendas urbanas, agora é estrela de vídeo especial no qual joga por bom tempo irreconhecível na rua, fazendo passes, dribles sem que os transeuntes parem ou lhe dêem devida atenção. Somente um garoto o percebe, bate bola com ele. No final, a mensagem: sem fama ou dinheiro, ninguém reconhece ninguém. Será?
Setímio Salerno Miguel
Advogado Empresarial e Professor da Faculdade de Direito de Franca.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.