Viagens - I

A primeira vez a gente nunca esquece? Esquece, sim. Data, companhia aérea, trajeto, a lembrança da minha primeira viagem

25/05/2018 | Tempo de leitura: 3 min

A primeira vez a gente nunca esquece? Esquece, sim. Data, companhia aérea, trajeto, a lembrança da minha primeira viagem de avião desapareceu no passado. Acho que foi de Franca a Uberlândia, com escala no Araxá, pela Real. O aeroporto de Franca era chamado Campo de Aviação, não era pavimentado, o aparelho subia e descia — literalmente, fazendo poeirão danado. Poucos sabiam o que era aterrissagem e decolagem. Eram recorrentes nossas idas a Uberlândia e as passagens deviam custar quase o mesmo que o que se gastava na viagem modelo tradicional — carro ou ônibus de Franca a Igarapava, mais o trem, de Igarapava a Uberlândia, da família inteira. Tempo de viagem? Quando eu era criança, as locomotivas eram impulsionadas a lenha. A velocidade não passava de 40, 50Km/hora. E, quando escurecia, era o máximo abrir a janela, pôr a cabeça para fora e tentar respirar contra o vento contrário, que batia no rosto da gente e tirava nossa respiração. Saíamos de Franca logo que amanhecia e chegávamos ao destino doze horas depois, se não houvesse contratempo. O trem era lento. Enquanto passávamos sobre o Rio Grande perto de Uberaba, limite da divisão geográfica entre São Paulo e Minas, dava para conferir as marcas de balas na ferragem da ponte, do tempo da Revolução de 32! De avião, não. Apenas quatro horas, porque tinha a escala no Araxá e pronto! Uma curiosidade, o trajeto Franca-Uberlândia hoje se faz, estourando, em hora e meia...
 
Houve um tempo no qual os bilhetes aéreos entre cidades brasileiras custavam caro, mas nada abusivo. Para o exterior, naturalmente mais caras. Embalde as poucas opções de destino e vôos, a escolha de ir por terra era mais baseada no medo, que no preço. Para Europa e Estados Unidos havia a possibilidade de viagem por mar, bastante demorada ou, por ar, com escalas estratégicas para abastecimento. Já África, Austrália, Oceania, Ásia, eram apenas referências dos livros de Júlio Verne e acho que nem tinham sido descobertas pelo homem ocidental...
 
Para viajar de avião nos anos 50, segundo imagens das revistas da época, seguia-se todo um protocolo. As mulheres usavam tailleurs de bom corte e, se moradoras das capitais, também um pequeno chapéu. Luvas, as mulheres elegantes usavam luvas! Os homens, naturalmente iam de terno e nas crianças eram postas suas melhores roupas. As mulheres penduravam bolsa num braço, e levavam a frasqueira na mão do braço oposto.
 
Frasqueira? A frasqueira era uma maletinha onde ficavam cremes, perfumes, jóias, pentes, escovas, laquês e os bóbis, que podiam ir em uma das malas mas que, medo de perder, eram mantidos junto a elas. Obrigatoriamente eram levadas em todas ou quaisquer viagens. O conteúdo das malas diferia, a depender do destino. No entanto, para as cidades daqui, mais próximas, ou para as de lá, mais distantes, geralmente ia o guarda-roupa quase inteiro. Saias de todas as cores; casacos curtos, compridos, leves e pesados; sapatos abertos, fechados, de salto, sem salto; sandálias. Verdadeiro mostruário de representante comercial. Muita água correu sob a ponte do Rio Grande. Mas, com alguma mudança, o espírito de viagem continua o mesmo. Volto ao assunto na próxima! 
 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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