Incêndios

Meu pavor declarado por fogo e incêndio vovó justificava à luz da doutrina espírita, afirmando que, em alguma das vidas anteriores,

04/05/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Meu pavor declarado por fogo e incêndio vovó justificava à luz da doutrina espírita, afirmando que, em alguma das vidas anteriores, tive experiência ruim com o fascinante elemento. Rebatia, garantindo que o medo era pela antevisão e péssimos prognósticos do meu futuro pós morte. Sempre temi fogo, desde o do palito de fósforos ao dos vulcões. Sem esquecer sinistros similares e atuais, dois acontecimentos distantes no tempo, me provocaram particular terror. Os incêndios dos edifícios Andraus, em 1972, e do Joelma, em 1974. Fora do país, em ambas ocasiões, acompanhei imagens pela televisão e textos lacônicos nos jornais estrangeiros. Apavorei-me ao imaginar o sofrimento de moribundos, sobreviventes e socorristas, tantos deles impotentes diante da fúria das labaredas, da fumaça e da fuligem. No processo de acompanhar as notícias, percebi que procurava encontrar culpados, senão responsáveis. Foi o sistema elétrico; excesso de carga; mau funcionamento de algum aparelho; vazamento de gás; chegou a hora da morte dos envolvidos; Deus os chamou; foi o destino; triste coincidência. Todavia, a tentativa de tentar determinar causa e culpado, se mostrou inútil. Busquei, então, informações complementares, para que meus julgamentos de responsabilidade não me parecessem tão unilaterais, tendenciosos e até injustos. O recente incêndio e desabamento do edifício de vinte e quatro andares no centro de São Paulo, fez-me reviver o antigo pavor pela tragédia de gente que jamais conheci. E voltei a pensar no que estava resguardado na memória. 
 
Prédio desocupado, fechado, aparentemente desabitado, com alvará de funcionamento vencido e, a exemplo de centenas de outros, sem que alguma instituição se manifestasse acerca dos perigos, da precariedade sanitária ou física do imóvel e proibisse sua ocupação. Destino previsível, foi invadido por sem-tetos. Tanto este, quanto os outros imóveis ocupados na marra acabam convertidos em mafuás. Possuem instalações elétricas clandestinas, condutores inapropriados de gás, precariedade na parte hidráulica. Apresentam depredação do patrimônio. Materiais mais valiosos como mármore, fios de cobre, ladrilhos, madeira, portas são arrancados para render algum trocado extra. Vendem até elevadores e caixilhos. A invasão, que não é pacífica ou acidental, é feita à base de intimidação e/ou ameaças. Muitas vezes idosos e crianças são colocados à frente pelos líderes dos grupos, para diminuir o confronto com eventuais defensores do imóvel. Após a ocupação, alguém começa a cobrar aluguel. É a rotina. O que sai fora dela são os acidentes, que acabam acontecendo e causam mortes de incautos. 
 
Acompanhamos incêndio, tragédia, cenas macabras e de bravura, coragem, sorte evidente de muitos. Há quem esteja em recuperação, quem sente a dor inenarrável provocada pela perda de entes queridos. Tristeza por eles. Porém, aos que evitaram que a tristeza fosse ainda maior, toda nossa gratidão.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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