Trabalhos

Chega o Dia do Trabalho, penso logo em nós, mulheres. Primeiro, porque se são muitos os papéis desempenhados pelas pessoas ao longo de cada vida,

27/04/2018 | Tempo de leitura: 3 min

Chega o Dia do Trabalho, penso logo em nós, mulheres. Primeiro, porque se são muitos os papéis desempenhados pelas pessoas ao longo de cada vida, os das mulheres não cabem num pen drive gigante. Somos, ao mesmo tempo, fêmeas, parideiras, esposas, mães, amigas e, embora profissionais de áreas diferentes, em casa acumulamos cargos de cozinheiras, enfermeiras, professoras. Lista extensa. Houve tempo no qual meia dúzia de rótulos nos definiriam. E, se fôssemos donas de casa eficientes, mães exemplares, mulheres de César o céu já seria nosso por direito. Morreríamos com a certeza — e seríamos louvadas por isso — de termos cumprido tanto a função que a sociedade nos reservara quanto a expectativa coletiva do nosso comportamento. Esse tempo vai longe e, sinceramente, não me deixou saudades.
 
Um dia a mulher descobriu que podia andar sozinha, sem muletas. Passou a ter outras serventias. Felicidade feminina ganhou nova e mais ampla dimensão e agora já alcançava os limites da realização profissional. Às vezes titubeio, sem saber se foi bom, se foi ruim para nós, pois a partir daí foram duplas, triplas jornadas de trabalho. Quantas vezes a executiva durona e eficiente do escritório chegou em casa, guardou a pasta de trabalho, botou o avental para fazer comida para os filhos enquanto acompanhava suas lições, atendia ao telefone enquanto orientava muitas outras atividades domésticas? Um passo e tanto. Vencemos barreiras com galhardia. Preconceitos, julgamentos, avaliações mesquinhas, mau humor dos companheiros, olhares enviesados dos familiares e cobranças absurdas. Tiramos de letra. Sabíamos que nosso papel era outro e, sem abdicar das delicias do lar e dos filhos — que ganharam igualmente autonomia — fomos em frente! Ficamos bonitas, rejuvenescidas pelo processo. Muito mais conscientes, seguras e fortes. Natural que houvesse reação. Nós mesmas, guerreiras, muitas vezes hesitamos entre o abandono deste novo mundo cujo desbravamento exige competência, para voltar ao modelo antigo mais cômodo, emparedado porém confortável.
 
Há muito de orgulho e cumplicidade permeando as relações femininas atualmente. Há apoio mútuo. Trocam informações, dão receitas de como venceram desafios e algumas das dificuldades comuns. Ao olhar para a frente, porém, enxergamos muito chão para percorrer. Estamos no começo de novo tempo. Atualmente lutamos para vencer a trincheira do preconceito contra a idade. Começar de novo, parece ser o grito de guerra desta etapa. Mulheres de hoje são avós que, ao invés de botar pijama e ir fazer biscoito, saem às ruas buscando trabalho, alguma atividade rendosa que as faça sobreviver se não no sentido financeiro, pelo menos no intelectual e/ou moralmente. E como viajam! Percebemos que ao longo do tempo, sim, perdemos a tonicidade da pele, não obstante ganhamos na elasticidade da nossa experiência. Se perdemos na visão de perto, enxergamos longe. Se os contornos do rosto não se nos apresentam tão nítidos e precisos, os limites da vida nos são claros e já sabemos exatamente aonde podemos chegar. É por isso que, quando me perguntam se gostaria de voltar no tempo, digo não. E sim, ao olhar para trás, tenho orgulho das árvores que ajudei a plantar.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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