Desalento

A atual fase da história brasileira pode ser chamada de tristes tempos. Tristes, porque o país se revolve numa guerra civil disfarçada

06/04/2018 | Tempo de leitura: 2 min

A atual fase da história brasileira pode ser chamada de tristes tempos. Tristes, porque o país se revolve numa guerra civil disfarçada; porque não temos líderes; porque o último reduto da moralidade, bom senso e Justiça se mostra frágil, inconsistente, confuso e desacreditado, revelando tempos diferentes daqueles nos quais Juízes, Desembargadores, Ministros, Procuradores, representantes do Ministério Público ocupavam, por sua importância e credibilidade, patamar altíssimo: degrau abaixo de Deus, para ser exata. Afinal, eles existiam — e existem — para garantir a Constituição e a Lei brasileiras. Para mencionar nomes que compunham o Supremo Tribunal Federal, éramos orientados a escovar os dentes. Socialmente, estavam muito distantes, fora da mídia, não se envolviam em situações vexatórias, não sofriam julgamento público de suas atividades, muito menos eram vilipendiados quando apareciam ou usavam veículos públicos para viajar. Era uma honra, aliás, estar na mesma cabina de avião com algum deles. Suas condutas irretocáveis os blindavam contra quaisquer julgamentos ou avaliações morais negativas talvez porque fossem figuras praticamente desconhecidas da população, talvez porque soubessem se comportar e não usassem o poder da máquina pública para ascender socialmente ou exigir tratamento diferenciado. 
 
Capitais, cidades do interior do país, mostravam orgulho por serem, algumas delas, o berço do nascimento deste ou aquele representante da Lei que, embora fora delas no exercício de suas atividades profissionais, ao visitá-las eram tratados como semi-deuses, recebidos com pompa, circunstância e muito respeito, que faziam por merecer. Muito diferente de hoje quando, infelizmente, a classe é alvo de chacota, apelidos, comentários ácidos e vexatórios provocados por situações ridículas das quais são autores e protagonistas. Pergunto-me, quando os vejo atuar e verbalizar justificativas ridículas, tolas e infundadas, se Diamantino, no Mato Grosso, recebe Gilmar Mendes de braços abertos. Não imagino como Lewandowski ou Marco              Aurélio são recebidos nos bairros cariocas onde nasceram. 
 
Jamais imaginei ouvir qualquer Ministro do Supremo, que se guiava por rigoroso e ortodoxo código de Ética e Conduta, dizer para outro Ministro do Supremo, publicamente e com toda razão, “Você é uma criatura horrível, Excelência!”. Surreal e impensável até pouco tempo a situação constrangedora de qualquer Ministro do Supremo acuado por cidadão nas ruas, se escondendo dentro do primeiro buraco disponível que, para sua sorte, era estabelecimento comercial.
 
Algumas vezes a respiração voltou: quando se prenderam empresários, políticos e sonegadores corruptos. Porém, enquanto cidadãos, nestes tristes tempos, continuamos desguarnecidos. Pagando as contas, mas desprotegidos. Não somos iguais perante a Lei e, sem dinheiro para usá-lo com advogados caros, estaremos vulneráveis, ainda que inocentes. Hoje somos nação sem líderes ou perspectivas e, não fossem raros exemplos de renitência e persistência de alguns representantes do Judiciário, sem esperança, em parte renovada por Raquel Dodge ao afirmar que “Justiça que tarda é Justiça que falha”, o que alentou minha alma de cidadã.
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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