Escolhas

Direito adquirido pós aprovação da cidadania, sou eleitora italiana. Fiquei emocionada ao escolher, há alguns anos, o Sindaco

23/02/2018 | Tempo de leitura: 2 min

Direito adquirido pós aprovação da cidadania, sou eleitora italiana. Fiquei emocionada ao escolher, há alguns anos, o Sindaco de Montesano Sulla Marcellana, comune de origem da minha família e, coincidentemente, parente com o mesmo sobrenome que eu. Votei, pela última vez, nas eleições de junho de 2016. 2018, novamente convocada, apontei deputado e senador que me representarão em Roma. 
 
Votar, na Itália, não é obrigatório. Mesmo assim, 70% dos eleitores cadastrados comparecem para deixar suas opiniões nas urnas. Há mais de dois milhões e meio de cidadãos italianos não residentes, que também podem votar e escolher seus representantes para as Comunes, Senado e Câmara italianos, seja pessoalmente nas Embaixadas e Consulados, seja pelo Correio, como é meu caso. Semana passada chegou envelope grande timbrado pelo Consulato Generale di San Paolo, subscrito com meu nome. Dentro dele, as cédulas. Já escolhi meus representantes, já devolvi para serem devidamente computados, na época certa. Na Itália não existem urnas eletrônicas e, mesmo sendo berço da Máfia, duvido que haja manipulação de resultados. 
 
Lá e cá, já acertei e já errei como eleitora. Lá, se acertei ao escolher o parente Sindaco de Montesano, errei feio ao votar no Berlusconi, político que se não era boa coisa quando o escolhi, mais tarde provaria sua péssima qualidade ao se envolver em escândalos de todo tipo. Procedimento aprendido na minha ânsia de imitar bons costumes familiares — nem sempre cumprido, o que lamento — anotei no verso de comprovantes de voto alguns nomes que escolhi para me representar nos governos federal, estadual e municipal, em várias eleições. Ao revê-las, percebi que há escolhas das quais me orgulho, como a de Roberto Freire em duas ou três ocasiões. Há outras, porém, que me envergonham. Sim, votei no Collor. Sim, votei no Lula. E, pior, levei muita gente comigo nestas famigeradas escolhas. 
 
Para começar a consertar os estragos eleitorais do passado e garantir algum sucesso no futuro, precisaríamos de grandes e profundas reformas. Tivesse algum poder, começaria por diminuir o número de senadores, deputados e os gastos desnecessários que cada um representa com seus auxílios, benefícios, regalias e até salários. Definiria e limitaria as atribuições de senadores, deputados estaduais e federais. Tiraria deles a competência na indicação de nomes para cargos que exigem qualidades que vão além de parentescos, interesses e alianças. Reduziria drasticamente o número de ministérios que só servem para abrigar acólitos, aspones e apadrinhados incompetentes. Privatizaria as estatais e, com a exigência de aprovação em concursos, reformaria o quadro do STF. Nesta primeira etapa, sugeriria a adoção de nova Constituição, como proposta por Capistrano de Abreu. Artigo Único, “De hoje em diante, todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.” Seria um bom começo.
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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