Personas

Há três pessoas dentro de nós. A que pensamos ser, a que pensam que somos e a que realmente somos.

20/10/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Há três pessoas dentro de nós. A que pensamos ser, a que pensam que somos e a que realmente somos. As duas primeiras são fruto de idealização, imaginação e fantasias — nossas e alheias. A terceira, o resultado da soma de parte das anteriores, mais nosso próprio DNA acrescido das chapadas da vida, mais as experiências positivas e as muito negativas misturadas, mais tombos e rasteiras, o passado pessoal (e intransferível) e, de quebra, o fardo dos feitos dos ancestrais que, queiramos ou não, de certa forma e em variadas configurações e coloridos, carregamos conosco. Estas três personas deveriam formar, mas não formam, uma santíssima e pacífica trindade. Pelo contrário. É muito frequente o conflito e litígio entre elas, entre as duas primeiras sedimentadas na fantasia e a terceira, com pé na realidade. Razões não faltam: as duas primeiras são criações livres do desejo, da projeção, de devaneios, de sonhos, não seguem regras fixas, caprichos que são da imaginação, visagens, assombrações, fantasmas, de consistência bastante diferente da terceira persona, que possui configuração mais próxima da realidade. Isoladamente já seriam complicadas. Todas junto e pior, misturadas, acabam por, segundo visão otimista, dar sabor à vida, pois estraçalham a monotonia. Na ótica dos pessimistas, bagunçar o coreto dos familiares e conhecidos. 
 
O grau e teor dessas misturas internas, torna-nos absolutamente falhos nos quesitos julgamento alheio e no auto-julgamento. Encontram-se aos montes por aí pessoas que acham, pensam ou dizem ser pessoa bem resolvida, destemida, que exibe personalidade forte, que afirma enfrentar qualquer parada, que diz não levar desaforo para casa; que reage dando murros na mesa quando se sente incomodada; que afirma dizer tudo que pensa a quem quer que seja, doa a quem doer. Em contrapartida, tanto na opinião dos circunstantes quanto diante da verdade, no mais das vezes é apenas pessoa destemperada, medrosa — que vive escondida atrás da capa de poder. Espada de plástico na mão, não é paladina de causa alguma e a bravata toda é tão somente arrogância que esconde deficiências as quais, na opinião dos amigos próximos são desculpáveis e na dos desafetos, um porre.
 
A felicidade consistiria em conquistar o equilíbrio entre as três personas, quais sejam, as duas que estão mais para fantasmas e a terceira, mais palpável, o que resultaria no ser que realmente somos, cuja essência independe tanto da avaliação benevolente dos amigos, quanto da maledicência dos inimigos. Gostosura da vida, penso, seria descobrir em situações corriqueiras, durante a convivência com afetos, as surpresas que reservamos dentro de nós, que mantemos escondidas e que são reveladas apenas aos pouquinhos para quem achamos merecer. A grande surpresa, aquela de tirar o fôlego, é quando a terceira persona – depois de muita pancada – aprende a admitir para si mesma seus traços arrogantes, prepotentes, a reconhecer suas qualidades, a admitir seus defeitos. 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br
 

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

Fale com o GCN/Sampi! Tem alguma sugestão de pauta ou quer apontar uma correção?
Clique aqui e fale com nossos repórteres.

Receba as notícias mais relevantes de Franca e região direto no seu WhatsApp
Participe da Comunidade

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.