Dois estrangeiros recentemente perguntaram-me sobre o Brasil. O senhor Manoel, português que vive na ponte aérea Londres-Ilha da Madeira e Mrs. Maria, inglesa, professora de línguas altamente politizada, mente questionadora, apaixonada pelo Brasil, particularmente apreciadora da exuberância da flora tupiniquim e admiradora da fauna brasileira. Fica ligeiramente ressabiada, porém, diante do que lhe conto sobre os representantes políticos do meu povo. Acho que não acredita que haja tanta bandalheira por aqui. 

 

Mrs Maria se lembra das visitas de Lula à Inglaterra. Comentou-as e aproveitei para confirmar certa dúvida. Protocolo real inglês é exigente e rigoroso, e fotografias, principalmente com a Rainha, seguem regras estritas. Lembrei que o ex-presidente foi fotografado sentado bem ao lado de Elizabeth II, numa foto coletiva com dignatários de outros países, muito mais significativos que nosso representante. Por que Lula sentado ao lado dela? Mrs Maria confirmou: ninguém pode parecer mais alto que a Rainha e, na hora da foto o fotógrafo oficial escolheu os mais baixinhos para ladearem-na. O marqueteiro de Lula na ocasião, aproveitou e espalhou aos sete ventos brasileiros a grande mentira: a Rainha escolhera pessoalmente ser fotografada ao lado de Lula! E os petistas acreditaram. Pior, o próprio Lula, protagonista e cúmplice da mentira, acreditou. 

 

Mrs Maria acompanha noticiários internacionais, e tem opiniões políticas fortes, embasadas e estruturadas. Por exemplo, ao lhe confessar estranheza diante da nova cara de Londres, hoje habitada principalmente por mistura explosiva de gente e etnias do mundo inteiro que substituiu o antigo padrão loiro dos olhos azuis, afirma que eles, os ingleses nativos, estão vivendo o que ela chama de descaracterização da raça, porque “há escoceses demais nos postos chaves do governo inglês que vêm, há tempos, escancarando as portas das fronteiras para imigrantes do mundo inteiro”. E que tudo faz parte de mirabolante plano escocês— que nunca se deu com a Inglaterra — para acabar com ela. Parênteses, Tony Blair, ex-primeiro ministro inglês, nasceu em Edimburgo, Escócia. Depois da internet a vida pessoal, a coletiva e a política não mais são secretas. Ela pergunta se o eleitor, cidadão brasileiro, não escuta ou não lê as notícias de corrupção dos seus politicos pela televisão, jornais ou redes sociais, se ela, inglesa, do outro lado do Atlântico, acompanha. Fiz que não entendi , por vergonha de responder. 

 

Ontem, então, quando soube da aprovação pelo Congresso Nacional da indecência chamada “fundão” pela qual os politicos enfiarão a mão no bolso do consumidor brasileiro para financiar suas sujas campanhas visando serem eleitos e continuarem a esculhambar o Brasil, cancelei minha aula e evitei sair à rua para não encontrar o sr. Manoel e assim evitar seu olhar de comiseração, repulsa e desaprovamento da conduta política brasileira.

 

Lúcia Helena Maníglia Brigagão

Jornalista, escritora, professora

luciahelena@comerciodafranca.com.br