Estranhezas

O bicho Homem, que se diz humano, é um mistério. Vejo por mim. Quanto mais tento me entender, menos me compreendo; mais me observo,

15/09/2017 | Tempo de leitura: 2 min

O bicho Homem, que se diz humano, é um mistério. Vejo por mim. Quanto mais tento me entender, menos me compreendo; mais me observo, menos me reconheço. Digo-me sem preconceitos, sempre me pego avaliando negativamente alguém. 
 
Na festa de casamento de jovens de família muçulmana, embora nunca tivesse visto a maioria dos presentes,  me flagrei colocando títulos nas pessoas.  Ao senhor de porte grande, cabeça totalmente raspada, barba no meio do peito, vestido com calças compridas brancas, camisão até os joelhos  de mangas compridas em seda estampada com bordados dourados, ousei chamá-lo, nos meus botões, de Homem Bomba.  Surpresa imensa quando, no jantar festivo da ocasião, ele se aproximou, pediu licença, se apresentou. Colocou as duas mãos espalmadas e unidas diante do peito — gesto de respeito, reconheci — disse ser imensa honra receber-nos e que se precisássemos ou desejássemos algo, bastava dizer-lhe. Calorosa recepção, sem dúvida. Ele era tudo, menos aquilo que o  pejorativo apelido que eu lhe pespegara, sugeria.
 
As mulheres da festa tinham a cabeça coberta por véus. Credo, pensei! Lembrei-me de Tassminah, amiga,  que usa burca não por imposição do marido, mas porque ela se sente confortável ao obedecer preceito religioso. As antigas freiras católicas também cobriam corpo e cabeça: ficando apenas mãos e rosto de fora, por que estranhar Tassminah? Encontro judias ortodoxas nas ruas com peruca, ou pelo menos chapéu, sobre o cabelo natural. Coisas da religião. Ademais, cobrir a cabeça durante rituais é costume nas cerimônias de judeus e cristãos ortodoxos. Poligamia entre muçulmanos? Existe? Existe. É estranho? É. Não percebi se havia algum caso entre os convidados daquela festa, mas lembrei-me da existência do estranho costume entre os  mórmons, que aliás são cristãos. Tassminah deixou as Ilhas Maurício, seu lugar de origem,  porque o pai se casou com uma segunda mulher, que coabitaria com a primeira esposa, sua mãe. Ela, filha,  não aceitou, embora sua mãe mostrasse a maior tranquilidade diante do fato e do costume. Mulheres ocidentais, ainda hoje,  aceitam escalabros conjugais, alegando que “homens são assim mesmo”. Não sei onde está a diferença. 
 
Ponto comum, cristãos, judeus, islâmicos e seguidores do hinduísmo acreditam em Deus, que recebe nomes diferentes em cada posto religioso e em cada templo, e sempre é apresentado com composições e naturezas próprias de cada seita. Cristãos acreditam que seja Uno e ao mesmo tempo Pai, Filho e Espírito Santo. Judeus acreditam que só há um Deus, Yahweh, cujo nome,  de tão sagrado, nem deve ser pronunciado. Alah, o Deus Islâmico é a Perfeição, impossível defini-lo.  No Hinduísmo, Brahman é o espírito supremo presente em todas as coisas. Só os budistas não têm um ser Onisciente, Onipresente e Onipotente, como nas outras religiões: seguem os Budas, criaturas iluminadas. 
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

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