Loucura

Saudades do tempo em que bicicleta era veículo de transporte mais comum que ônibus, carros e motos. Condutores de bicicletas nunca primaram

28/07/2017 | Tempo de leitura: 2 min

Saudades do tempo em que bicicleta era veículo de transporte mais comum que ônibus, carros e motos. Condutores de bicicletas nunca primaram pela obediência aos sinais de trânsito, acho mesmo que os julgam desnecessários, mas os estragos causados em terceiros pelo mau uso delas nem de longe se comparam aos causados por motos, carros e ônibus. Não saberia dizer como são as aulas das auto-escolas neste século que de tal experiência apenas participei, literalmente, no século passado. No entanto, lembro-me de muitas das orientações do instrutor, tipo dê passagem para os pedestres; a obrigação de quem sai de qualquer vaga é observar se há veículo se aproximando; em caso de dúvida, a preferência é de quem está à sua direita; obedeça fielmente às indicações dos limites de velocidade. Coisas do século passado, mesmo. 
 
Embora gozasse de certa autonomia, mamãe às vezes dependia de motorista para locomoção. Sua última saída de casa foi memorável. O taxista estacionou o carro, abriu a porta traseira para que ela saísse. Tirá-la do carro e acompanhá-la até à porta do estabelecimento obstruiu por instantes a passagem. Aflita motorista que inesperadamente virou a esquina e se viu impedida de passar, buzinou e gritou que “lugar de velho é em casa” e completou, com peculiar delicadeza: “velho devia morrer”. Típica amabilidade dos novos tempos. 
 
Não saberia avaliar, hoje, quem é pior, se o motorista — da bicicleta, moto, carro, caminhão, ônibus — ou o pedestre. A obediência aos sinais de trânsito é restrita: o pedestre sempre acha que se correr um pouquinho dá para atravessar a rua, quando o sinal fecha. Sinal amarelo do semáforo é entendido como “vai que dá” e se o motorista pára, leva buzinada do carro de trás. Contrariamente ao que eu pensava, existe geração espontânea aqui: do nada surge ao lado ou atravessa a frente, ou vem na contramão, moto pilotada por motoqueiro aflito que precisa urgentemente passar e, se não é atendido imediatamente, buzina, balança a cabeça, como a lamentar a inabilidade alheia. E some. Ruas e avenidas da cidade viraram pista de corrida e qualquer ultrapassagem, manobra radical. Limites de velocidade são ignorados. Entrar ou sair de garagem, principalmente se está em rua de tráfego intenso, exige habilidade e muita, muita paciência. Ou os motoristas estão com muita pressa ou desconhecem as mais elementares regras de educação. 
 
Abalroamentos são constantes e, no caso de você ter razão, as reações variam do “não tenho dinheiro para pagar”, ao “a culpa é sua!”, mesmo que não seja. E o motorista infrator sempre aproveita para fugir, se tem oportunidade. Isso tudo sem falar da péssima qualidade da frota francana. Ando com muito medo de dirigir em Franca.
 
Lúcia Helena Maníglia Brigagão
Jornalista, escritora, professora
luciahelena@comerciodafranca.com.br

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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